A chacina do Jacarezinho

07/05/2021 20:18

Carlos Uchoa Magrini

Mais uma tragédia ocorreu no dia 6/5 (quinta-feira) deixando pelo menos 25 vítimas. Segundo o jornal El País, a maioria dos mortos não era suspeita em investigação que motivou a ação policial. Das 25 vítimas, pelo menos 13 não tinham qualquer relação com essa operação policial e dos 21 investigados e com mandado de prisão, três foram detidos e outros três foram mortos.

Em 5/6/2020, o Ministro do Supremo, Edson Fachin proibiu a realização de operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro durante a pandemia do coronavírus. Essa decisão foi tomada em face de ação movida pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em novembro de 2019. Tudo leva a crer que a Polícia Civil do Rio de Janeiro passou por cima de uma decisão do Supremo (STF).

Infelizmente, essa tragédia não é um fato isolado. É muito comum acontecer chacinas como essa nas periferias das grandes cidades do país. Com uma população muito pobre e de maioria negra, essas comunidades vivem sob o medo tantos dos traficantes e milicianos, quanto da polícia.

Os policiais responsáveis pela operação afirmam que não houve execução por parte da polícia e que aqueles que morreram eram traficantes que trocaram tiros com a polícia. O vice-presidente do Brasil, general Mourão, disse que “era tudo bandido” (El País).

O fato chegou à ONU, que pediu uma investigação independente ao Ministério Público. Sabemos como é isso, ou seja, vai terminar engavetado. Essa é mais uma daquelas tragédias em que os pobres e negros são praticamente executados pela força policial do estado.

Segundo O Globo, essa é a maior chacina dos últimos anos e apresenta os seguintes dados:

07/1994 – Complexo do Alemão – 14 mortos (Mandado de busca e apreensão)

05/1995 – Complexo do Alemão – 13 mortos (Mandado de busca e apreensão)

01/2003 – Senador Camará – 15 mortos (Repressão ao tráfico de drogas)

07/2006 – Vidigal – 13 mortos (Repressão ao tráfico de drogas)

06/2007 – Complexo do Alemão – 19 mortos (Mandado de busca e apreensão)

05/2020 – Complexo do Alemão – 12 mortos (Repressão ao tráfico de drogas)

05/2021 – Jacarezinho – 25 mortos (Repressão ao tráfico de drogas)

Como podemos ver, é prática do estado executar sumariamente pessoas que moram na periferia alegando repressão ao tráfico de drogas. Na verdade, trata-se de operação de repressão ao povo que passa necessidade, um povo carente que não tem atendimento do estado em suas necessidades básicas e que morrem de covid, de fome e de tiro. Trata-se de uma “limpeza” da sociedade.

Mas isso, como podemos ver, não se trata de um erro tático. Isso é uma forma de ação do capitalismo que serve tanto para eliminar pobres e negros, quanto para intimidar essas pessoas para que não haja reação contra o sistema. Mas, não sabemos até quando o povo aguentará isso. As ações policiais na periferia, apesar de nem sempre se traduzir em grandes tragédias, sempre apresentam casos de execuções, de negros, de crianças e até de famílias inteiras.

Essa política de “guerra ao tráfico” criminaliza seres humanos, em sua maioria pobres e negros, e dá aval para a polícia entrar nas comunidades em uma verdadeira operação de guerra, executando todos os que estão ao alcance de suas armas. Até quando o Brasil continuará com essa política que encarcera e executa homens pobres e negros? Temos que ter a consciência disso para lutar pela descriminalização das drogas.

O capitalismo está em uma crise profunda em todo o mundo e, nos países semicoloniais como o nosso, isso é fácil de se notar pela grande miséria e pelos ataques do estado às pessoas que vivem nessa miséria. Não tem como reformar o capitalismo, humanizar o capitalismo, pois ele é desumano, ele vive da concentração de riquezas para poucos e da miséria a maioria.

A única e verdadeira saída para o povo está na construção de um partido revolucionário que conquiste o poder através de uma revolução social, destrua o estado capitalista e construa um novo estado sobre seus escombros, um estado social