A classe trabalhadora entra na luta
O dia de 15 de março foi marcante em todo o país. Categorias entraram em greve, outras fizeram paralisações e trabalhadores juntamente com a juventude ocuparam as ruas de todo o país proporcionando manifestações gigantescas.
Segundo Guilherme Boulos, coordenador do MTST, “Hoje é um dia histórico. É o dia em que teve uma virada, até aqui só vinham os movimentos organizados. Hoje, vieram também a massa de trabalhadores e a periferia, que paralisaram. Isso acende o alerta e crava o começo do fim desse governo golpista”.
Já o presidente da CUT SP, Douglas Izzo, afirmou: “Ou o governo retira o projeto de reforma da previdência do Congresso Nacional ou vamos paralisar o país inteiro e fazer uma greve geral”.
Nesse mesmo dia os professores da rede pública de todo o país iniciaram uma greve nacional contra a reforma da previdência convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação.
Em Porto Alegre – RS, além das grandes manifestações com mais de 10 mil participantes, a juíza Marciane Bonzanini concedeu uma liminar que suspende todas as ações de campanha de Michel Temer em defesa da reforma da Previdência, sob pena de multa diária de R$ 100 mil em caso de descumprimento. A ação foi movida por 9 (nove) sindicatos do Rio Grande do Sul.
Não resta qualquer dúvida que a greve geral do dia 15 de março foi uma grande vitória da classe trabalhadora. Além de uma grande participação da classe organizada pelos sindicatos, da juventude ousada e da massa trabalhadora que aderiram ao movimento de livre e espontânea vontade, houve também o apoio daqueles que não participaram do movimento. Fotos no Twitter da CNTE: https://twitter.com/i/moments/842025193879019521
Essa é a grande marca da derrota do governo golpista. Ele perde o apoio até mesmo das massas, que manipuladas pela Rede Globo, golpista, bateram panela e gritaram “fora Dilma”, “fora PT”.
Esse governo golpista que tinha pressa nos ataques à classe trabalhadora e afirmava com convicção que a reforma da Previdência tinha que ser aprovada até o final de abril e a reforma trabalhista tinha que ser aprovada até o final de junho, foi surpreendido com uma enorme resistência popular que ocupou as ruas de todo o país com palavras de ordem contra a reforma da Previdência e “fora Temer!”
Vitória! O país parou.
Com certeza, o país parou. A mídia golpista insistiu em mostrar pequenos conflitos que aconteceram entre manifestantes e a polícia em algumas tentativas de repressão e também a opinião de pessoas que ainda não compreenderam a gravidade da situação e estavam revoltadas nos pontos de ônibus aguardando o reinício da circulação do transporte coletivo.
Enquanto isso a grande massa tomou conta das ruas com força e alegria. Com manifestações que tiveram duração de mais de 4 horas seguidas, ninguém demonstrava cansaço. Todos queriam gritar “fora Temer!” e contra a reforma da Previdência. A juventude que desde o ano de 2015 tem protagonizado lutas históricas em defesa da Educação Pública e contra o golpe, continua cada vez mais animada, demonstrando que não foi derrotada pela repressão e autoritarismo, muito pelo contrário, está mais consciente e mais forte, com o movimento secundarista aumentando em todo o país.
Em Belo Horizonte, MG, entre 60 mil e 100 mil pessoas participaram do ato. Professores estaduais e municipais, metroviários, servidores públicos federais, eletricitários e trabalhadores dos correios paralisaram suas atividades.
Em Betim, MG, os petroleiros não entraram para trabalhar. Além disso, houve atos e manifestações em outras cidades mineiras como Uberaba, Uberlândia, Varginha, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Governador Valadares, Montes Claros, São Francisco, Lima Duarte e Piau.
Em Juiz de Fora, MG, houve paralisação dos professores municipais e estaduais e da rede privada, dos metalúrgicos da Mercedes Benz, servidores públicos em geral, bancários do setor público e privado, trabalhadores dos correios e outros. O ato unificado contou com cerca de 30 mil manifestantes, entre bancários, metalúrgicos, professores, trabalhadores dos correios, servidores públicos das três esferas, integrantes do MST, trabalhadores em educação das redes pública e privada, estudantes secundaristas e universitários e uma grande massa que ocupou a principal avenida da cidade e fazendo a cidade parar por mais de duas horas.
Em Belém (PA), a manifestação aconteceu pela manhã e contou com cerca de 6 mil participantes.
Em Curitba, PR, cerca de 50 mil pessoas tomaram o Centro Cívico, avenida em que se concentram os principais prédios governamentais do estado e da prefeitura. A paralisação foi forte nas categorias que aderiam ao movimento. Cruzaram os braços metalúrgicos, motoristas e cobradores, carteiros, bancários, servidores das universidades federais, servidores municipais e estaduais e petroleiros. Os estudantes secundaristas que ocuparam as escolas também marcaram presença na luta.
No Recife, PE, segundo a CUT, cerca de 40 mil pessoas participaram dos protestos. Paralisaram suas atividades os funcionários do metrô, do VLT e professores municipais e estaduais. Os movimentos de moradia (MLB e MTST) fizeram barricadas nas rodovias que dão acesso à capital.
No Rio Grande do Sul pararam os trabalhadores da educação estadual e eletricitários. Houve bloqueios nas rodovias do interior e protestos em várias cidades. Em Porto Alegre paralisaram suas atividades os bancários, trabalhadores do correios, do DMAE (Departamento Municipal de Água e Esgotos) e educação estadual e municipal. Pararam também os trabalhadores da educação municipal da região metropolitana e servidores federais. O ato unificado contou com a participação de aproximadamente 10 mil pessoas.
Em Salvador, Ba, aconteceu um ato com cerca de 30 mil pessoas. Trabalhadores das redes municipal e estadual de educação e de escolas privadas também paralisaram suas atividades. Professores e demais servidores da UFBA e UNEB, também entraram no movimento. Os bancos públicos e privados tiveram seu horário de abertura retardado.
Em Natal, RN, cerca de 4 mil trabalhadores fizeram um protesto no centro da cidade. Professores das redes municipal, estadual e federal, decidiram parar por 24 horas. Os rodoviários e bancários fizeram uma paralisação parcial.
Em Brasília, DF, cerca de 5 mil pessoas participaram da ocupação do Ministério da Fazenda.
Em São Paulo, a capital econômica do país, amanheceu com o metrô e os ônibus paralisados. Também cruzaram os braços os trabalhadores da educação municipal e estadual e de algumas escolas particulares, além dos servidores da saúde (parcialmente). Houve atos na região industrial da Zona Sul. Estudantes, professores e funcionários da USP fizeram um “trancasso” na entrada da universidade para protestar contra a reforma da Previdência e também contra os ataques desferidos pelo reitor contra o movimento sindical e estudantil. Pararam também os trabalhadores das escolas técnicas do estado. Somente na região metropolitana, foram 20 unidades que paralisaram suas atividades. No final da manhã, cerca de 200 mulheres ocuparam o prédio do INSS, que fica no centro da cidade. Ao final da tarde, cerca de 200 mil pessoas ocuparam a Avenida Paulista.
Em São José dos Campos, no interior paulista, os trabalhadores da GM atrasaram a entrada ao trabalho em 3 horas. Na Embraer também houve atraso na entrada com ato contra a destruição da Previdência. E em Jacareí os metalúrgicos da montadora chinesa Cherry decretaram greve por 24 horas.
No ABC paulista, teve destaque a greve da Volks em São Bernardo do Campo. Além dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo, os petroleiros da Refinaria de Capuava, em Mauá, também cruzaram os braços.
Em Santos, os portuários pararam e tiveram que enfrentar a repressão da PM de Alckmin. Os motoristas de ônibus pararam 100% das linhas nas cidades de Santos, Guarujá, Praia Grande e Cubatão.
No estado do Rio de Janeiro, as atividades começaram logo pela manhã, com um atraso na entrada dos trabalhadores da Refinaria Duque de Caxias, na Baixa Fluminense. Em Campos dos Goytacazes, região responsável por cerca de 80% da produção de petróleo do estado, houve bloqueio do acesso ao Porto de Açu. Os trabalhadores da saúde estadual já estavam em greve e os da saúde federal também fizeram protestos. Uma das faixas da ponte Rio-Niterói foi bloqueada logo cedo e os trabalhadores dos correios do município do Rio também aderiram à paralisação. A manifestação na capital fluminense começou na metade da tarde e contou com cerca de 100 mil pessoas.
Em Fortaleza houve ato pela manhã, no qual participaram cerca de 30 mil pessoas. Pararam os trabalhadores da construção civil e das empresas de ônibus. Cerca de 200 escolas da rede estadual e municipal não tiveram aulas hoje. A manifestação unificada foi convocada por todas as Centrais Sindicais, Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo, Bloco de Esquerda.
Em Goiânia treze mil pessoas participaram de um ato na parte da tarde organizado de maneira conjunta por várias centrais e movimentos sociais.
Esses dados foram obtidos nas informações do MAIS, Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista (https://esquerdaonline.com.br) e o acréscimo de alguns contatos de dirigentes sindicais.
Sem dúvida alguma, são mais de 600 mil participantes. Segundo levantamento da CUT, foram mais de 1 milhão de participantes dos protestos e paralisações por todo o país em um dia de paralisação. Isso já era esperado depois das grandes manifestações que ocorreram no Dia Internacional de Luta das Mulheres (8 de março) que colocaram como ponto central a luta contra a destruição da Previdência.
A classe trabalhadora entrou definitivamente na luta contra o governo golpista e seus ataques aos direitos e conquistas. Além disso, a massa trabalhadora aderiu a esse movimento, aumentado ainda mais a força da resistência aos golpistas que até então era quase que exclusiva dos movimentos sociais e de estudantes secundaristas e universitários.
Conclusão
Para a construção desse 15 de março vitorioso, foi imprescindível a frente única das centrais sindicais que souberam colocar a luta contra a destruição da Previdência como ponto de unidade entre elas. Essa deve ser uma das lições a serem tiradas do 15 de Março, a importância da superação do sectarismo para fazer a resistência aos ataques do capital.
Mas não podemos parar por aí. Esse ato, por mais vitorioso que tenha sido, não é o suficiente para barrar esse ataque desferido pelo governo golpista de Temer. A classe trabalhadora respondeu ao chamado para a luta e a população teve consciência da grave situação que estamos vivendo, apoiando e até mesmo aderindo aos protestos.
Para não perder esse impulso, precisamos agora partir para um movimento crescente, deflagrando as greves de categorias e colocando em suas pautas de reivindicações a retirada da PEC 287 (Reforma da Previdência) e construir uma GREVE GERAL por tempo indeterminado exigindo o fim dos ataques aos direitos e conquistas da classe trabalhadora e a saída do governo golpista de Temer.
Esse movimento é caracterizado também pela sua conotação classista. O povo foi às ruas comandado pelas centrais sindicais, com bandeiras das mesmas e de partidos de esquerda. Parece que o povo brasileiro e a classe trabalhadora acordaram de um pesadelo que parecia não ter fim e assumiram suas bandeiras históricas de resistência aos ataques da burguesia, abrindo um espaço para uma rica discussão da necessidade da luta por uma sociedade justa, igualitária e verdadeiramente democrática, uma sociedade socialista.
- CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA!
- NENHUM DIREITO A MENOS!
- FORA TEMER!
- TODO PODER AO POVO!
Péricles de Lima, Juiz de Fora, MG