A ditadura mal matada
Elisângela Mendes -
Lá na roça quando a gente fala de um serviço mal feito e que pode gerar revide, fala-se em cobra mal matada. Já usei essa metáfora em referência à ditadura civil / militar no Brasil. Estamos convivendo com um período muito mal resolvido da nossa história, a ponto de se duvidar até de sua verdadeira face. É a nossa cobra mal matada dando o bote. E aí brotam esses que defendem AI-5, que naturalizam tortura porque os seus afetos, obviamente pessoas de bem, nunca desafiaram ditadores.
Esses que falam de Ustra como se herói nacional fosse. Que vêem o Exército brasileiro como salvador de uma pátria prestes a ser engolida pelo comunismo em 1964. Comunismo esse hoje redivivo por eles. É um mundaréu de gente ora ignorante, ora simplista, ora sem caráter mesmo, fascista mesmo, ruim nas carnes mesmo.
Há uma tarefa inadiável para a história nesse momento que é mostrar quem é esse cadáver insepulto a apodrecer nas nossas portas: a ditadura de 64 a 85. Como tem feito sim, há anos, mas agora urge que seja para além de seus produtores de conhecimento.
Historiador dialogando com seus pares em suas torres acadêmicas inatingíveis. É hora de acabar com a raça dessa cobra mal matada para o povo. Para que da morte surja a ressignificação e a transformação. E que gente como Bolsonaro nunca mais encontre espaço para enaltecer Ustra. E que gente como Bolsonaro jamais ouse a chegar ao cargo máximo desse país.
Bolsonaro é o vetor de todas as doenças que esse cadáver apodrecido da ditadura emana e a tarefa da história é urgente. Por isso ele a odeia tanto. Por isso tenta reescrevê-la com o sangue dos mortos, torturados e desaparecidos. Mas a história é insurgente contra esse tipo de pena.
Agradecemos a colaboração da companheira Elisângela Mendes.