A maior paralisação de servidores federais da história
É assim que a greve dos servidores públicos federais foi definida pela revista Isto é, nº 2233. A matéria da revista procura de forma clara desqualificar o movimento grevista publicando os altos salários dos servidores públicos que dirigem o movimento. Mas, não consegue esconder que essa já é a maior greve da história do serviço público brasileiro. Segundo a matéria, “Nem as paralisações na gestão Fernando Henrique Cardoso, as mobilizações no início do primeiro mandato de Lula ... se comparam ao movimento atual, seja em duração, grau de planejamento e senso de oportunidade – ou oportunismo.”
A verdade é que os servidores federais já tentaram todas as alternativas possíveis. Essa luta se iniciou no governo FHC, que apresentou o desmonte do estado como uma necessidade da política neoliberal. Passou pelo governo Lula, que apesar de reabrir concursos para várias categorias do serviço público, não atendeu as reivindicações salariais dos servidores. Muitas negociações foram realizadas, porém não foram cumpridas pelo governo. Tudo isso fez com que os servidores federais deflagrassem a greve.
Em suas reivindicações, além da recomposição das perdas salariais, que para algumas categorias já atinge 45%, exigem também a reestruturação do quadro de carreira, equiparação salarial, definição do 1º de maio como data-base e uma política de reposição inflacionária.
O governo Dilma aposta no endurecimento diante da greve e procura desqualificar os grevistas, chamando-os de “grevistas de sangue azul”. Oferece um reajuste de 15,8% dividido em três parcelas anuais (2013, 2014 e 2015), tentando garantir assim o controle sobre os servidores para a Copa do Mundo em 2014 e até mesmo para as Olimpíadas em 2016. Mas não fica nisso, o governo ameaça, “quem não aceitar o reajuste de 15,8% não terá nada”.
A verdade é que além das perdas salariais e do não cumprimento dos acordos anteriores, o funcionalismo público continua a sofrer com a política de desmonte do estado. São terceirizações e privatizações dos serviços. Juntamente com isso vem os ataques aos direitos conquistados pelos servidores. Como exemplo podemos citar a fixação de teto para as aposentadorias e pensões, acabando assim com a paridade entre ativos e aposentados; o congelamento do quadro dos servidores federais e a contenção no reajuste dos salários em ministérios, autarquias e fundações, além da divulgação pública e nominal dos vencimentos dos servidores.
Esse governo que endurece nas negociações com os servidores, atacando direitos e arrochando salários, é o mesmo governo que investe trilhões de reais no setor privado, com isenções, empréstimos a perder de vista e todas as facilidades possíveis, com o argumento de garantia de emprego para enfrentar os efeitos da crise do capitalismo. As multinacionais e os banqueiros agradecem ao governo, enchendo seus cofres e aplicando a política de arrocho salarial e demissões. É exatamente o que vemos acontecer na General Motors, em São José dos Campos, onde a empresa continua com o firme propósito de demitir quase 2 mil trabalhadores.
Portanto, a greve dos servidores federais não pode ser considerada apenas uma greve econômica, como tenta repassar a revista Isto é. A greve é também política, pois o atendimento as reivindicações exige uma mudança na política do governo federal.
É por isso que os servidores se organizaram e se prepararam de forma espetacular para essa greve, criando fundos de mobilização e de greve que estão garantindo até mesmo o pagamento dos salários daqueles que tiveram o ponto cortado.
Com certeza, Dilma pretende ganhar a simpatia da população ao endurecer com os grevistas, uma vez que a população prejudicada pela greve acaba se posicionando contrária ao movimento. Mas ao mesmo tempo Dilma estimula a organização e mobilização de um forte setor organizado da classe trabalhadora. Podemos perceber isso nas palavras de um dos dirigentes, “Quem elegeu Dilma foram os mesmos movimentos sociais que elegeram Lula. A resistência em negociar pode leva-la ao isolamento. É um preço alto a pagar.”
É com esse sentimento que os servidores iniciaram a suspensão do movimento no dia 28/08, com cerca de 18 categorias filiadas a Condsef aprovando o acordo com o governo de 15,8% parcelado em três anos e suspendendo a greve.
Com certeza os servidores federais saem dessa greve, que durou cerca de 60 dias, com uma grande vitória, uma vitória política, a maior greve dos servidores federais, que de forma organizada e firme enfrentaram o governo Dilma e denunciaram para todo o país a política neoliberal aplicada pelo governo do PT.
Os servidores federais precisam dar continuidade ao processo de organização e mobilização, constituindo comitês que discutam a necessidade da unidade da classe trabalhadora e da luta por uma sociedade socialista. Nós, da Liga Socialista, aproveitamos para convidar os companheiros servidores federais a constituirem, no interior da CUT, uma corrente classista, revolucionária, independente e de luta.
- Viva a luta da classe trabalhadora!
- Parabéns aos servidores públicos federais pela ousadia e organização na luta!