A moral burguesa ou a hipocrisia do sistema capitalista.
No dia 24 de abril de 2020, o Brasileiro assistiu à queda do ministro da Justiça Sergio Moro. As tentativas de “reconciliação” entre o ministro e Bolsonaro não vingaram e, o “Superministro” como foi denominado não durou 2 anos no governo golpista - o qual ele mesmo é um dos principais articuladores do golpe que pavimentou sua eleição. Após fazer acusações graves de crimes de responsabilidade ao Governo Bolsonaro durante o anúncio de sua saída em rede nacional ao vivo, apresentou, mais tarde, mensagens de celular como prova de suas acusações, numa grande emissora de TV, a Rede Globo, cuja atuação durante a operação lava-jato ajudou a construir e efetivar o golpe contra Dilma Roussef do PT.
Hoje, dia 25/05, um dia após a grande repercussão da queda e das acusações feita pelo ex-ministro, os ataques contra ele ganham forma. A deputada Carla Zambelli do PSL, cujo nome aparece nas mensagens, agindo como negociadora para que Sérgio Moro ficasse no cargo, acusa o ex-ministro de crime por tornar públicas as mensagens trocadas entre ela e Sergio Moro, nas quais ela tenta demovê-lo de sair, oferecendo apoio na indicação deste para o Supremo em setembro.
A queda do ministro Sergio Moro caiu como bomba no colo dos apoiadores de Bolsonaro, tanto dos convictos, aqueles que apoiam pelo seu caráter semifascista como pelos que por falta de opção viável entre os candidatos tradicionais tentam (com certo sucesso) através de Bolsonaro implementar a agenda de austeridade contra os trabalhadores para garantir o máximo dos lucros da agenda neoliberal.
Aclamado como herói por livrar o Brasil da corrupção dos governos anteriores, sobretudo e principalmente do PT, Sergio Moro era um dos principais suportes do governo Bolsonaro. As divergências sobre o comando da Polícia Federal, que investiga os filhos de Bolsonaro em vários processos, foi o pivô da crise. Além disso, a desidratação e os vetos do Pacote Anticrime de Sergio Moro já tinham deixado o então ministro bastante frustrado.
A ruptura aconteceu pela insistência de Bolsonaro em trocar o nome do diretor-geral da Policia Federal, que até então estava a cargo de um “nome” de Moro. Bolsonaro exonerou o diretor da PF Mauricio Aleixo nas primeiras horas do dia, causando a ruptura definitiva de Sergio Moro. Ele sai acusando o governo de interferência nas investigações e abrindo uma situação de profundo desconforto na base Bolsonarista. Afinal de contas, Sergio Moro, era, para grande parte do eleitorado de Bolsonaro a personificação da moralidade da política no Brasil pós golpe!
Agora, Sérgio Moro, mesmo sendo para muitos um “homem digno, que não se vende” amarga de outros setores a pecha de traidor.
A hipocrisia é própria do sistema capitalista. A moral burguesa é podre, mas, travestida de costumes padronizados como bons, esconde um infinito mundo de sujeira, podridão e falsidade. A moral burguesa não passa de fachada para controlar o comportamento das classe trabalhadora, impedindo um levante contra toda violência que os dominantes nos impõem.
Sérgio Moro, enquanto juiz da força tarefa para destituir um governo eleito, para destruir um partido construído pelos trabalhadores, usou até grampos telefônicos, divulgou ilegalmente em cadeia nacional, na grande mídia - sócia do golpe articulado- usou de coação contra testemunhas, ignorou a ausência de provas, tramou, conspirou contra a nação - como denunciou os vazamentos do The Intercept - e foi aclamado "herói" nacional, com direito a boneco de capa e tudo. Hoje, é acusado de crime por mostrar mensagens do celular.
Apesar das dificuldades que tenho em lidar com eleitor de Bolsonaro, por questões políticas claras, penso que hoje, todos têm a possibilidade de avaliar o jogo de interesses que permeia a política capitalista.
São apresentados como bons, honestos e até, heróis quando úteis. Sérgio Moro sabia que seu futuro seria esse no governo que ajudou a eleger. O grupo de Moro mirava o fim do PT e a ascensão da velha direita elitista que não conseguia vencer o PT nas urnas. Mas erraram na dose e construíram a ascensão do fascista incontrolável.
Libertaram o Kraken. Ambas as partes tentaram se beneficiar, compondo esse desgoverno golpista.
Mas, agora, percebem a dificuldade de reverter o estrago que fizeram. Jogaram o país numa profunda crise econômica, social e política. E a crise sanitária que assola o mundo, "coroa" nosso horror diante de tanta destruição.
Cabe a nós, da esquerda, retomar o nosso lugar de combate e organização dos trabalhadores. Preparar, mesmo no isolamento, a retomada das lutas, derrubar esse governo golpista e tomar o poder para os trabalhadores.
Não há heróis na luta de classe! "A emancipação da classe trabalhadora será obra dos próprios trabalhadores!"