A resistência palestina inflige uma derrota a Israel
Marcus Halaby Sex, 28/07/2017 - 10:58
Os protestos dos palestinos contra as restrições israelenses ao acesso para o Haram-al Sharif (Monte do Templo) foram reiniciados depois que a polícia impôs uma proibição de entrada para adoradores menores de 50 anos. A última provocação é uma concessão aos sionistas de extrema-direita que denunciaram a subida anterior como uma humilhação.
Se houver uma conclusão a partir dos eventos das últimas duas semanas, será a que não haverá paz para os cidadãos israelenses enquanto o Estado israelense continuar a oprimir o povo palestino. Nenhum grau de opressão, nenhuma intensificação do seu caráter de apartheid, nenhuma expansão de assentamentos ou limpeza étnica de seus habitantes originários, alcançará a utopia reacionária de um estado sionista seguro que ocupe a Palestina histórica.
A realidade do assédio e da opressão diários envolvidos na ocupação por Israel da Cisjordânia e Jerusalém Oriental e seu contínuo cerco de Gaza, estimularão constantemente os atos de resistência. Esses atos esporádicos de "terrorismo" individual são uma resposta ao regime de terror do estado sionista. A assimetria desta luta evidencia a possibilidade e a necessidade de uma nova insurreição ou intifada.
A violência israelense provoca e incita não só os assediados e populações dos territórios ocupados de 1967, mas também um quinto dos próprios cidadãos de Israel que são palestinos árabes, relegados ao status de cidadãos de segunda classe em um autodesignado "estado judeu".
Parece, afinal, que o tiro fatal de dois policiais da polícia da fronteira israelense perto do complexo da mesquita de Al-Aqsa, na Cidade Velha de Jerusalém, em 14 de julho, que Israel imediatamente aproveitou para justificar mudanças no status quo em Jerusalém Oriental, foi conduzido por três homens que eram cidadãos israelenses da cidade árabe-majoritária de Umm al-Fahm.
A partir de 25 de julho, o Crescente Vermelho Palestino informou que 1.090 palestinos ficaram feridos nos dez dias desde que os protestos entraram em erupção contra as "medidas de segurança" israelenses na Cidade Velha, a maioria como resultado de gases lacrimogêneos e balas revestidas de borracha. Sete palestinos e três israelenses foram mortos durante esse mesmo período, enquanto a Anistia Internacional relata que as forças de segurança israelenses atacaram duas vezes o hospital al-Makassed em Jerusalém Oriental, em busca de "suspeitos" que foram gravemente feridos.
A decisão de impor "medidas de segurança" violou os acordos de longa data para o complexo de Al-Aqsa, a causa inicial dos protestos, uma decisão que parece ter sido tomada pelo governo contra o conselho do exército israelense e da polícia secreta. O ministro da Cooperação Regional de Israel, Tzai Hanegbi, acrescentou uma provocação ainda maior alertando que "é assim que começa uma Nakba", uma referência ao deslocamento forçado da maioria do povo palestino em 1948.
Crise e oportunismo
É possível que Israel tenha, através da arrogância característica e da mão pesada, apenas se equivocado nesta última rodada de provocações e confrontos sem um plano e sem quaisquer objetivos políticos concretos. No entanto, esses confrontos chegam em um momento perigoso, em que uma convergência instável de forças internacionais poderia encorajar o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a atos mais imprudentes, para testar os limites do possível.
Num contexto em que tanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como o presidente russo, Vladimir Putin, estão buscando os favores de Israel em troca de suas declarações de apoio à sua "segurança" e à sua luta contra o "terrorismo", é perfeitamente possível que Netanyahu possa recorrer a um período de atos de violência sem precedentes para fazer um fato consumado de seu objetivo de longa data de pôr fim ao enigma de décadas de um "processo de paz" trabalhando gradualmente para uma "solução de dois estados".
O recente discurso de Netanyahu em Budapeste, ao lado do líder pro-sionista e antissemita da Hungria, Viktor Orban, foi efetivamente um apelo às potências europeias e ao imperialismo norte-americano para reconhecerem de forma aberta e explícita o que todos reconheceram desde já de forma discreta e implícita: a permanência da ocupação de 1967.
No entanto, também demonstrou um medo real da parte de Netanyahu de que Trump está de fato se desvinculando do Oriente Médio e pode não ser capaz ou estar disposto a agir como garante militar, político e diplomático de Israel em perpetuidade. Netanyahu poderia calcular que há apenas uma estreita janela de oportunidade para que Israel explore a convergência internacional atual a seu favor.
Como o egípcio Abdel Fattah el-Sisi, o turco Recep Tayyip Erdoğan e o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman, Netanhayu está se preparando para um mundo em que ele pode jogar sem os EUA, Rússia e China contra um outro e ganhar a cobertura dos crimes de seu estado de um deles se os outros forem reticentes a fazê-lo.
E no contexto da provocativa retórica de Trump contra o Irã, que deu luz verde às agressões sauditas, egípcias e dos Emirados contra o Catar, existe um perigo real de que Israel possa buscar sua vingança regional com a teocracia iraniana através de um novo assalto ao Líbano.
Afinal, a derrota de fato de Israel no Líbano nas mãos do movimento armado xiita Hezbollah no verão de 2006 foi um golpe para o seu prestígio regional, que demonstrou os limites objetivos do poder dissuasor de seus militares. Com o Hezbollah (e seus patrocinadores iranianos) sobrecarregados em uma guerra para preservar a ditadura de Assad da Síria, Israel poderia tentar vingar sua derrota em 2006 com um novo massacre, para demonstrar que ainda é o estado mais poderoso militarmente da região. Os porta-vozes militares israelenses até falaram sobre expulsar a população das regiões fronteiriças do sul do Líbano, "para evitar vítimas civis", é claro.
Mas mesmo sem uma guerra no Líbano, novos massacres em Gaza e Cisjordânia continuam a ser uma possibilidade real.
Contradições
No entanto, a longo prazo, a contradição fundamental de Israel é que ele continua sendo uma colônia de colonos - para judeus de todo o mundo - que ainda não resolveu seu "problema demográfico". Essa situação, é diferente dos seus grandes irmãos na América do Norte, na Argentina ou na Austrália, que há mais de um século conseguiram reduzir seus povos originários para uma pequena fração das populações de seus países e, portanto, incapaz de representar qualquer ameaça para a etnia e caráter nacional dos estados construídos sobre suas terras por seus colonizadores.
Israel, ao contrário, é cercado por um enorme mundo árabe e muçulmano, cuja população simpatiza com os palestinos. Além disso, no século 21, quando comete seus crimes de genocídio "o mundo inteiro está assistindo", literalmente.
Dentro de seus limites anteriores a 1967, Israel goza de uma confortável maioria judaica, que compõe cerca de quatro quintos dos cidadãos formais. Mas essa maioria é uma ficção legal. Com uma formação social, política e militar, "Israel" superou esses limites. A ideia de que Israel poderia ser persuadido, pacificamente e através da diplomacia, recuar em troca de garantias de sua "segurança" é um engano cruel promovido pelas potências globais - e pelos regimes árabes - cujo objetivo é desmobilizar e deslegitimar a resistência palestina ao roubo de Israel de suas terras cada vez menores.
É também uma demanda ultrajante de que o ocupado, colonizado e o povo palestino disperso devem assumir a responsabilidade pela segurança do Estado que é o principal culpado de sua opressão e tentativa de sua destruição como uma nação.
Mas isso tem um preço. Israel ainda não conseguiu anexar formalmente todos os territórios que estabeleceu às custas dos palestinos não é por fraqueza militar, pois hoje não existem obstáculos materiais sérios à expansão territorial de Israel, nem ao seu domínio militar sobre os palestinos. Nem é uma consequência da "desaprovação" sem sentido e hipócrita da "comunidade internacional", mas sim porque a anexação formal sem uma extensa limpeza étnica significaria que Israel não seria mais um estado de maioria judaica.
Além disso, a última década e meia viu movimentos forçados maciços de populações na região, provocados, primeiro pelo caos da ocupação dos EUA no Iraque e depois pela guerra do ditador sírio Bashar al-Assad contra a maioria de sua própria população. Esses deslocamentos de refugiados provavelmente se tornarão como semipermanentes como a Nakba de 1948 e, eles ocorreram em uma escala muito maior do que este ato inicial de transferência de população forçada que permitiu que Israel surgisse em sua forma atual como um estado de colonos exclusivistas étnicos.
O perigo a longo prazo é que Israel poderia usar o caos de uma futura guerra regional generalizada como cobertura para completar esta tarefa sombria, expulsando o que resta da população árabe palestina, tanto nos territórios de 1967 quanto até dentro de seus limites anteriores a 1967. Cada ato agressivo em curto para médio prazo que não consegue enfrentar resistência que estabeleça limites à liberdade de ação de Israel encoraja aventuras muito mais apocalípticas no longo prazo.
É por esta razão que precisamos urgentemente da renovação de um poderoso movimento global de solidariedade com o povo palestino. Será necessário expor a cumplicidade dos governantes da União Europeia e dos EUA na longa guerra de colonização de Israel e exigir que eles cessem seu apoio moral e material para isso.
Para ter sucesso, esse movimento terá que mostrar não só a solidariedade com as lutas sociais, democráticas e nacionais de todos os povos oprimidos da região, mas ao mesmo tempo afirmar sua independência dos regimes ditatoriais que usam o "apoio" ao povo palestino como uma cobertura cínica para seus próprios crimes e agressões.
Traduzido por Liga Socialista em 22/08/2017