As revoltas populares tomam conta das ruas

12/01/2020 20:09

 

Estamos diante de uma das maiores crises do sistema capitalista, que segundo os economistas se agravará ainda mais 2020. A primeira expressão dessa crise foi nos EUA, na forma de uma crise imobiliária em 2007 que assustou o mundo e com os grandes bancos privados tendo que ser salvos pelos estados. Essa é considerada como o prenúncio da crise de 2008.

A continuidade da crise nos mostra que não é apenas uma crise econômica, mas uma crise estrutural do sistema capitalista.

Os capitalistas aproveitam para aumentarem ainda mais seus lucros com as políticas de austeridade, atacando a classe trabalhadora, reduzindo salários, retirando direitos, privatizando, eliminando as liberdades democráticas e o imperialismo redividindo o mundo com suas guerras.

A classe trabalhadora reage vigorosamente

Mas, tudo isso tem consequências e revoltas explodem pelo mundo afora:

No Líbano uma convulsão social tomou conta do país e mais de 1 milhão de pessoas ocuparam as ruas. Foi deflagrada uma greve geral sem a presença dos sindicatos. A greve foi imposta por manifestantes que bloquearam as principais estradas, impedindo assim a normalidade das atividades econômicas, fazendo com que os trabalhadores se juntassem à greve e às manifestações.

Na Argélia, temos também uma grande crise econômica e política. A população é composta em 70% por jovens com menos de 30 anos, e deles 29% estão desempregados. Tal diminuição do nível de vida gerou uma imensa insatisfação popular. Dezenas de milhares de pessoas, desde 18 de março de 2019, saem às ruas em protesto contra o governo há mais de 5 meses.

O movimento Ocuppy em Hong Kong, que durou mais de 10 semanas, não é só pela tenacidade dos manifestantes, sendo grande parte da juventude, mas também pelo apoio generalizado que inundou as ruas sempre que o governo tentou dispersá-los.

O movimento começou como uma greve estudantil exigindo o arquivamento de propostas de "reformas" eleitorais que teria dado o controle de Pequim sobre a escolha de candidatos para o cargo de Chefe do Executivo nas eleições em 2017. Ele rapidamente se transformou em um confronto em massa contra o governo quando uma manifestação foi violentamente atacada pela polícia em 26 de setembro. No dia seguinte, dezenas de milhares mostraram a sua solidariedade para com os estudantes.

Na França, tivemos um milhão e meio de pessoas em mais de 200 manifestações em todo o país. Nove em cada dez trens foram paralisados: o metrô de Paris paralisou, dois terços dos professores entraram em greve, juntamente com controladores de tráfego aéreo, profissionais de saúde, trabalhadores de eletricidade (FED), bombeiros e estudantes. Em 5 de dezembro, a França estava parada. Isso se tornou a maior onda de greve e movimento social na França desde 1995.

O movimento foi lançado contra mais uma reforma da previdência. O governo Macron ataca os trabalhadores ferroviários e do metrô de Paris, que se beneficiam de condições especiais de aposentadoria, mas de fato ataca todo o setor público e, especialmente, os professores. Tal movimento já fez o governo recuar, retirando o aumento da idade para aposentadoria, mas o movimento continua firme nas ruas.

Na Espanha, em 14 de outubro de 2019, após um julgamento de quatro meses, a Suprema Corte de Madri sentenciou nove líderes separatistas catalães de nove a treze anos de prisão por sua participação no movimento de secessão de 2017.

Em resposta, dezenas de milhares de manifestantes, principalmente jovens, se reuniram nos centros das cidades da região, onde foram confrontados com uma repressão policial que se transformou em três dias de batalhas, com pelo menos 54 prisões. Esse movimento deixa claro a enorme crise política que existe hoje na Espanha e que levou à vitória da esquerda com o Psoe e o Podemos.

Na Itália, surge o movimento sardinha formado inicialmente por jovens que indignados com os discursos de ódio e exclusão, de Salvini, conseguiu, através das redes sociais, reunir em tempo recorde cerca de 15 mil pessoas na praça central da Bolonha. Enquanto Salvini abria a campanha eleitoral de sua candidata a governadora, Lucia Borgonzoni, em um comício para 5 mil pessoas no estádio da cidade. Nas praças públicas, o canto é sempre o mesmo, milhares de vozes cantam Bella Ciao, a música da Resistência Italiana contra o fascismo na década de 1940.

A Grã-Bretanha deixará a Europa em 31 de janeiro de 2020 com um governo determinado a fazer uma fogueira dos direitos dos trabalhadores e das regulamentações ambientais e a abrir a economia do país ao acordo comercial "maciço" de Trump. O país está dividido entre aqueles que defenderam o Brexit e os que foram contrários. Pelo visto, essa crise política e a saída da Grã-Bretanha da zona do Euro, trará consequências dolorosas para a classe trabalhadora. A Escócia quer um novo plebiscito sobre a saída da Zona do Euro. O cheiro de revolta está no ar.

O Iraque vinha em uma grande crise, com manifestações para pedir a queda do regime. Foram registrados bloqueios de estradas, enquanto as escolas e administrações públicas permaneciam fechadas para manter a pressão sobre o governo. O movimento de protesto começou em 1º de outubro e foi marcado por confrontos entre policiais e manifestantes que deixaram oficialmente 257 mortos. No entanto, desde 24 de outubro, as manifestações foram cada vez mais numerosas e mais tranquilas, organizadas por estudantes e sindicatos. Os manifestantes voltaram a pedir por um movimento de desobediência civil, enquanto os sindicatos declararam greve geral.

Já no Irã, a morte no Iraque do general iraniano Qasem Soleimani, em um ataque terrorista por drone, comandado pelos EUA, marcou uma arriscada escalada da tensão entre Washington e Teerã. Uma reação do povo iraniano tomou conta das ruas exigindo uma resposta ao imperialismo estadunidense. O governo iraniano já anunciou que vai se "vingar" dos EUA e que passará a produzir urânio para além dos limites do acordo nuclear firmado com grandes potências mundiais em 2015. A tendência é que esse conflito aumente, pois o que os EUA querem é aumentar seu poder na região, através de guerras imperialistas.

Agora fazemos um destaque para a América Latina, onde após um período de aproximadamente 10 anos de políticas progressistas, vivemos um imenso retrocesso.

No Haiti os movimentos de protesto continuam dia após dia e ganham grandes dimensões. O objetivo é derrubar o presidente e acabar com a corrupção no país. Trata-se de uma crise social, política e econômica que vem de muito tempo. Recentemente, podemos lembrar da Força de “Paz” da ONU, que oprimiu, torturou e violou mulheres e crianças. Além disso, tivemos os terremotos que em um estado de miséria, piorou ainda mais a situação desse povo.

Milhares de pessoas tomaram as ruas da capital e de várias cidades do interior para protestar contra a impunidade e a corrupção, além de exigir a saída do presidente Jovenel Moïse e uma reforma do sistema político haitiano. Esse o movimento já conta com dezenas de mortos e centenas de feridos.

Honduras vive uma turbulência política duríssima sem interrupções desde 28 de junho de 2009, quando a oligarquia local, apoiada pelos Estados Unidos (EUA), deu um golpe de estado e depôs o presidente Manuel Zelaya jogando o país numa crise social com perseguições e assassinatos às lideranças dos movimentos sociais e à oposição em geral.

Milhares de manifestantes protestam nas ruas contra as políticas neoliberais recheadas de profundos cortes nos investimentos sociais e a privatização da saúde e da educação comandada pelo atual mandatário Juan Orlando Hernández. Sete em cada 10 pessoas vivem na pobreza e a taxa de desemprego já ultrapassa os 50%.

Na Nicarágua, ao assinar um acordo com o FMI e ceder às pressões do organismo financeiro internacional, o presidente nicaraguense Daniel Ortega tentou passar uma reforma da previdência que reduziria benefícios e penalizaria a maioria da população. Essa medida abriu uma onda de protestos por todo o país.

Desde abril deste ano, o uso desmedido de violência policial e as prisões de manifestantes promoveu uma escalada de confrontos, que já computa algumas centenas de mortes, em sua maioria pelas armas do Estado e de forças aliadas a Ortega.

A Venezuela também vive uma crise econômica, social e política. Setores golpistas apoiados pelo imperialismo estadunidense, tentam a todo custo derrubar o governo bolivariano de Maduro, sucessor de Chàvez. As sanções impostas à Venezuela pelo imperialismo estadunidense levam a miséria à população.

Os golpistas, comandados agora por Guaidó, acusam o governo de corrupção e de levar a Venezuela ao caos e, não medem esforços para tentar derrubá-lo. Maduro, reivindicando do chavismo, com respaldo de parte da população e também das Forças Armadas, consegue se manter no poder impondo derrotas aos golpistas.

No Equador, o estopim foi o pacote de austeridades imposto pelo FMI, que incluía o fim dos subsídios para os combustíveis e ataques aos servidores públicos. Com isso, o preço do diesel subiu cerca 120% e a gasolina cerca de 30%. A reação foi imediata, principalmente de motoristas de ônibus, caminhões e dos servidores públicos. Os povos indígenas ao se sentirem prejudicados também pelo pacote aderiram ao movimento que ganhou enorme força. A exigência que o governo abrisse negociação e voltasse atrás no fim dos subsídios para os combustíveis.

Depois de muita luta o governo de Lenín resolveu negociar com os indígenas que mantinham o movimento e acabou recuando e chegando a um acordo. Mas, infelizmente, apesar do acordo, forças oficiais do governo continuam com ataques aos povos indígenas, executando friamente suas lideranças.

No Chile, tudo começou com o aumento das tarifas do transporte público. Os estudantes invadiram as estações dos metrôs em protesto. Rapidamente veio a repressão e a luta começou. O restante do povo aderiu ao movimento de protesto, juntamente com os povos indígenas. O presidente Piñera, mostrou-se autoritário e impiedoso, ordenando aos carabineiros que reprimam com força total. Isso leva a centenas de mortos e feridos, sendo que muitos dos feridos foram atingidos nos olhos, levando a cegueira total ou parcial.

O povo não desiste e continua com o movimento nas ruas exigindo Fora Piñera e Assembleia Constituinte Popular. Esse movimento já dura mais de 3 meses.

Na Colômbia, dezenas de milhares de trabalhadores, estudantes e indígenas ocuparam as principais ruas e deflagraram em greve geral contra o governo de Iván Duque. A Central Unitária dos Trabalhadores (CUT) da Colômbia rejeitou o pedido de Duque de suspender a greve geral marcada para quarta (04/12) e confirmou a realização da marcha em todo o país, dando prosseguimento às duas semanas de mobilização contra o pacote de medidas trabalhistas e previdenciárias do governo. O clima também está bem tenso.

Na Bolívia tivemos um golpe militar/fundamentalista, que derrubou o presidente Evo Morales, que tinha sido legitimamente eleito para mais um mandato. Mas esse golpe causou tanta indignação que os povos indígenas e trabalhadores se revoltaram e organizaram a resistência, que mesmo sob uma forte repressão continua nas ruas exigindo a saída da presidente golpista Jeanine Áñes, que se mostra com fortes tendências ao fascismo.

Na Argentina, após inúmeros enfrentamento com o governo Macri, de direita, o povo resolveu dar outra chance ao peronismo, elegendo Alberto Fernandez. Não sabemos até quando irá durar esse “casamento” uma vez que a simples eleição de Fernandez não mudará o cenário da Argentina. Vamos ver se o governo será capaz ou terá a coragem de tomar as medidas necessárias para atender às necessidades do povo. Caso isso não aconteça, novas mobilizações tomarão conta das ruas desse país.

Da resistência à revolução

Essas são revoltas que ainda não podem ser consideradas como revoluções, mas que com certeza, trata-se de um avanço na construção de um processo revolucionário.

Temos que lembrar também que tudo isso é muito dinâmico e que esses movimentos não são lineares, teremos fluxos e refluxos durante algum tempo e temos que saber aproveitar os dois momentos para organização e mobilização da classe trabalhadora. E mais, procurar criar uma ligação internacional entre esses movimentos, para assim chegarmos a um processo revolucionário internacionalista.

No Brasil vimos em 2016 o golpe (Judiciário/parlamentar/midiático) que derrubou a presidente Dilma (PT). Teve início logo após a reeleição de Dilma, com Aécio Neves (PSDB) destilando ódio contra Dilma e o PT, apoiado pela mídia, que já preparava esse terreno há alguns anos e se juntando com setores de extrema direita que pediam intervenção militar.

Os golpistas assumiram o poder com Temer em 2016, que imediatamente atacou com a reforma trabalhista e da previdência. Com a mobilização de parte do povo brasileiro, foi derrotado na reforma da previdência, mas conseguiu aprovar a reforma trabalhista; a EC 95 que congelou as verbas para o serviço público por 20 anos; e também a terceirização nas atividades fim, aprovada no STF.

Nas eleições de 2018, a direita teve que condenar e prender Lula, impedindo-o de participar do pleito e também teve que apelar para o fascista Bolsonaro, para dar continuidade ao golpe.

Com a campanha eleitoral de Bolsonaro, baseada em fakenews e discursos de ódio, vimos as atitudes fascistas surgirem por todo o Brasil. Os fascistas saíram dos esgotos para atacarem homossexuais, negros, militantes de esquerda e qualquer um que fosse anti-bolsonarista.

Com a eleição de Bolsonaro, vieram novos e grandes ataques à classe trabalhadora e suas organizações. Estamos assistindo a criação do primeiro partido fascista do Brasil, a Aliança pelo Brasil, com a logo esculpida com cartuchos de munição e com o número 38, fazendo referência ao famoso calibre de revólver.

A violência policial vem crescendo assustadoramente e com ela cresce também o genocídio da população negra e pobre, principalmente da juventude e cresce também o genocídio dos povos indígenas. Geralmente essa violência policial vem acompanhada de ataques de grupos fascistas.

Mas, mesmo assim, vivemos uma enorme paralisia dos movimentos sociais e sindical. Como disse Trotsky, “a crise da humanidade reduz-se à crise da direção”.

Infelizmente a direção dos partidos de esquerda e das centrais sindicais, principalmente a do PT e da CUT, não organizam e nem convocam as massas para fazer resistência ao governo fascista. A reforma da Previdência foi uma das maiores derrotas para a classe trabalhadora, principalmente porque foi aprovada sem luta. A CUT se limitou à palavra de ordem: “se botar pra votar o Brasil vai parar”, mais nada. Não organizou sequer um calendário de mobilização, com paralisações e manifestações para construir uma greve geral.

Mas, temos certeza que essa paralisia terá um fim. Em determinado momento, haverá uma reação do povo, pois as condições objetivas para isso estão dadas. Temos que nos preparar para esse momento, ajudando as massas a se organizarem e a construírem a resistência, criando comitês nos próprios locais de trabalho e nos bairros operários.

Para atingirmos uma vitória revolucionária, também é necessário internacionalizar as lutas. Lutas no mundo inteiro que nada mais são que a luta dos oprimidos contra seus opressores, os capitalistas. Como vimos, as lutas estão aí, da Bolívia ao Iraque, da Espanha à Argentina, do Chile à Argélia, da Colômbia à Grã-Bretanha. A tendência é que essas lutas fiquem maiores ainda e se espalhem ainda mais, devido à crise prevista para esse ano de 2020.

Apesar de não termos hoje uma Internacional da Classe Trabalhadora que internacionalize essas lutas, temos o exemplo recente de que isso pode ser feito. Vimos as mulheres chilenas fazerem uma grande manifestação contra os opressores, estupradores e machistas. Essa iniciativa ganhou o mundo em um só canto e coreografia.

Podemos seguir o exemplo dessas guerreiras e também nos unirmos a elas para unificar a luta dos trabalhadores e dos povos oprimidos de todo o mundo e assim construirmos uma nova Internacional revolucionária, a 5ª Internacional.

Aproveitamos para convidar a todos vocês, companheiros e companheiras, a se organizarem conosco na Liga Socialista, para ajudar a organizar a luta da classe trabalhadora e para que juntos possamos enfrentar os desafios de nossas tarefas.

Viva a revolução!

Por uma nova Internacional revolucionária, a 5ª Internacional!