Convulsões sociais varrem a América Latina

11/11/2019 19:50

Cansados de tanta exploração, os setores oprimidos da população latino-americana partem para o confronto em defesa de sua própria sobrevivência. A crise do sistema capitalista prevista por economistas para os próximos anos já começa a ter consequências, que como sempre, trata-se do ataque dos poderosos contra a classe trabalhadora e os povos pobres. Mas, por outro lado, esse setor oprimido reage bravamente a esses ataques e como dizia o povo venezuelano em uma palavra de ordem: “Alerta, alerta que caminha, a espada de Bolívar varre a América Latina”.

O Equador entrou em uma grande convulsão social, liderada pelos povos indígenas e que teve a rápida adesão da classe trabalhadora, fazendo com que o presidente Lenín Moreno anunciasse em rede nacional a transferência da sede do Governo de Quito para Guayaquil.

Tudo começou com um decreto do presidente que acabou com o subsídio dos combustíveis, causando um aumento exagerado nos preços. Além disso, houve um grande ataque aos servidores públicos com redução de salários e impondo um desconto mensal correspondente a um dia de trabalho, que seria recolhido para o Estado.

O governo foi obrigado a recuar e revogar o famigerado decreto e assim houve um recuo do movimento, abrindo as negociações. Porém, os indígenas já perceberam que o governo está perseguindo suas lideranças e enrolando com as negociações. A volta das mobilizações parece inevitável.

Na Venezuela, após grande tensão entre o governo Maduro e a direita fascista orientada e auxiliada pelo imperialismo estadunidense, que provocou mortes, prisões e fome, foi dada também uma trégua, com um acordo entre o governo Maduro e a oposição de direita. Porém, sabemos que todo acordo com a direita significa ataques contra o povo trabalhador.

O PSUV, partido do presidente Maduro, acaba de convocar uma marcha nas cidades de Caracas e Maracaibo, para essa 5ª feira (24), contra o Fundo Monetário Internacional, contra o imperialismo, contra a interferência estrangeira nos assuntos internos dos povos e em favor da soberania e independência dos povos livres.

O Chile, vive uma grande revolta que teve início com os estudantes lutando contra o aumento da tarifa do transporte coletivo. Quando o governo resolveu recuar e revogar o decreto que reajustou as tarifas, já era tarde. Várias outras reivindicações legítimas que estavam contidas até então, surgiram como uma fênix, que levou o governo a decretar o toque de recolher. Um detalhe é que essa medida foi tomada pela última vez durante o governo do ditador general Pinochet. Mas, o povo demonstrou que tem coragem e continua nas ruas, enfrentando blindados, cassetetes, bombas de gás lacrimogêneo e todos os demais aparatos de repressão e exigindo a saída do presidente Sebastián Piñera.

Já são mais de 20 mortos e centenas de feridos por causa dos conflitos, sem falar nas centenas de detidos e desaparecidos. Agora as informações ficam ainda mais difícil pois foram cortados os canais de comunicação, principalmente das redes sociais. Mais de 180 pessoas sofreram danos oculares devido a balas de chumbo e de borracha disparadas pela polícia durante os protestos.

Na Bolívia, Evo Morales consegue mais uma vitória nas eleições, sendo reeleito no primeiro turno. Como aconteceu no Brasil em 2014, a direita foi para as ruas alegando fraude no processo e acusando Evo de ditador. O movimento reacionário direitista já tomou conta das ruas do país e tentam um golpe semelhante ao que aconteceu no Brasil, derrubando a presidente Dilma Rousseff (PT). Evo decretou estado de emergência e denunciou o golpe em marcha, porém não resistiu à pressão e entregou o cargo, convocando novas eleições. A oposição racista e fascista espalha o terror pelas ruas, incendiando a casa da irmã de Evo e tentando fazer o mesmo com a residência de Evo. Camacho, um dos líderes do golpe adentrou ao palácio do governo com uma bandeira da Bolívia e uma bíblia e orou sobre as mesmas. Está claro que se trata de um golpe militar fundamentalista. A classe trabalhadora e os povos indígenas não aceitam o golpe. Os mineiros e campesinos descem para La Paz em apoio a Evo. A guerra civil está instalada.

Na Argentina, Macri foi derrotado nas eleições pelos peronistas. Depois de várias greves gerais que ocuparam as ruas do país e que fizeram a capital argentina tremer, o povo arrancou Macri e a direita do poder, conduzindo os votos para a chapa Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

No Uruguai, teremos eleições presidenciais no domingo (27/10). Além da disputa pelo poder, os uruguaios enfrentam uma grande luta contra a Reforma Constitucional encaminhada pelo Congresso que pretende aumentar as penas de prisão para crimes graves, incluindo a adoção da "prisão perpétua", a criação de uma guarda policial com efetivos militares, a permissão para batidas noturnas com autorização judicial e o cumprimento efetivo das condenações. Os uruguaios entenderam muito bem o que isso significa, o caminho para uma ditadura. É a direita, a serviço do imperialismo estadunidense, tentando dominar toda a América Latina. Exatamente por isso, as ruas de Montevidéu, capital uruguaia, foram tomadas por uma enorme massa de manifestantes.

O Haiti vive uma grande crise, provocada pela escassez de combustíveis e pela corrupção institucionalizada. As manifestações espontâneas de descontentamento bloqueiam as estradas com pedras e pneus incendiados. Além da região metropolitana, foram relatados bloqueios totais na cidade de Arcahaie, na região de Artibonite, em Mirebalis, na região central, no cabo haitiano ao norte e em vários pontos no sul do país. 

Em Honduras, milhares saíram às ruas da capital, na quarta-feira passada, exigindo a renúncia do presidente Juan Orlando Hernández, por denúncias que o vinculam ao narcotráfico. As jornadas de protestos incluíram bloqueios de estradas, tomadas de avenidas com uma alta participação de jovens e do movimento estudantil.

Hernández chegou ao poder em 2014 e desde então tem tido o apoio das Forças Armadas, da Polícia Nacional e da Corte Suprema de Justiça.

Na Colômbia, milhares de estudantes saíram às ruas, ocupando as ruas de Bogotá no dia 10 de outubro. A população está revoltada com as políticas de austeridades que sufocam o povo, e da pilhagem imperialista promovida e liberada livremente por seus governos, como acontece no Brasil. Esse tipo de política leva à destruição no sistema educacional, nas políticas públicas e nas liberdades democráticas. Podemos dizer que a Colômbia é mais uma panela de pressão prestes a explodir.

No Brasil, apesar da aparente apatia, a situação dos trabalhadores é grave: alto índice de desemprego, perda de direitos, crimes ambientais que atingem a população, economia em declínio e agora a perda da previdência pública e solidária. As organizações de esquerda como a CUT e o PT, não estão cumprindo com sua obrigação de mobilizar e organizar a classe trabalhadora. Esperamos que a onda rebelde que varre a América Latina sirva de incentivo à classe trabalhadora brasileira e suas organizações, para que vençam a paralisia e obriguem as direções a cumprirem suas funções, retomando as ruas do país.

Mas, tivemos uma importante vitória no dia 8/11, foi a libertação do ex-presidente Lula. Foi uma vitória muito comemorada em todo o país. Lula discursou para uma multidão no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e deixou claro que vai percorrer o Brasil, mobilizando o povo e organizando a oposição ao governo Bolsonaro. Segundo o jornal Folha de São Paulo, José Dirceu, que também saiu da prisão, procurou Lula e disse “temos que fazer o PT voltar a ser de esquerda e socialista”.

Como podemos perceber, a situação política da América Latina se resume a um barril de pólvora.

Esses governos contrários aos interesses do povo e sustentados pela repressão e pelas forças do imperialismo precisam ser derrubados pelos povos unificados em uma grande luta. O povo deve continuar nas ruas e devem transformar o movimento em uma greve geral revolucionária.

A única e verdadeira saída para a classe trabalhadora, indígenas e a massa da população, é a derrubada dos governos pró-imperialistas e a substituição por governos de trabalhadores e camponeses que convoquem eleições para uma assembleia constituinte livre e soberana onde os trabalhadores possam adotar soluções socialistas e anti-imperialistas para os problemas de seus países. Este seria um grande passo no sentido de reverter a maré reacionária que varre o continente e na construção da Confederação das Repúblicas Socialistas da América Latina.