Eleições: Dilma contra Aécio no segundo turno
Rico Rodriguez, São Paulo Fri, 17/10/2014
O primeiro turno da eleição presidencial brasileira em 5 de outubro produziu apenas uma surpresa. Tal como se esperava, a atual presidenta Dilma Rousseff do Partido dos Trabalhadores (PT) ocupou o primeiro lugar, mas, com apenas 41,6 %, não pode reivindicar a vitória. No entanto, embora as pesquisas tinham previsto 30 % para Marina Silva, candidata do PSB, ela viu muito de seu apoio evaporar, chegando ao terceiro lugar com 21,3 %, praticamente o mesmo resultado que obteve quatro anos atrás como candidata do Partido Verde. O segundo lugar e, portanto, o lugar no segundo turno, foi para Aécio Neves do PSDB, que ganhou 33,6 %.
A primeira vista, poderia ter parecido que Marina ia se beneficiar com as chamadas “jornadas de junho” do ano passado. Como uma ex-seringueira indígena, que trabalhou com o legendário Chico Mendes e juntou-se ao PT em seus primeiros e mais radicais dias, ela virou ministra do Meio Ambiente no governo Lula, mas depois desistiu quando não conseguiu implementar mais do que uma pequena fração que seu programa prometida para proteger as florestas tropicais.
No entanto, posteriormente, depois de deixar o PT, ela foi para a direita, virou evangélica, tomou posição contrária à descriminalização do aborto e ao casamento de pessoas do mesmo sexo. Depois de falhar em legalizar seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade, juntou-se a Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), como candidata a vice. Apesar do nome, esse partido não tem nada ver com o movimento da classe trabalhadora e é um partido neoliberal. Depois da morte de Eduardo Campos, Marina assumiu a candidatura.
A campanha eleitoral
Como candidata, Marina no primeiro momento disparou para mais de 30% nas pesquisas, que também indicavam que ela poderia vencer Dilma num possível segundo turno. Até a base do próprio PSDB e da classe capitalista apostou mais numa vitória dela, que do próprio candidato Aécio. Más nas últimas semanas da corrida ela só veio caindo.
Sua campanha foi marcada pelo apelo vazio para uma "nova política", que nunca soube concretizar, e no final não conseguiu convencer nem aqueles que procuram uma alternativa para a "polarização entre PT e PSDB", nem ao capital organizado, que reconheceu que ela não tinha nem suficiente apoio político nem suficiente vigor. Tanto Dilma quanto Aécio exploraram essas fraquezas e facilmente puderam confrontar com ela nos debates de TV. (Por uma análise mais profunda do programa apresentado por Marina antes das eleições vê o nosso artigo antes do primeiro turno).
Embora em segundo lugar na votação, Aécio Neves ganhou mais na campanha. Com apenas 15% durante meses nas pesquisas, o resultado representou uma vitória para ele e lhe coloca numa posição forte para o segundo turno em 25 de outubro. Nas pesquisas ele agora empata com Dilma.
Derrota para o PT
Foi o Partido dos Trabalhadores que foi mais punido nas urnas, perdendo 4 milhões de votos, em comparação com a última eleição em 2010. O partido também perdeu terreno nas eleições para a câmara nacional, parlamentos estaduais e governadores. Em nível nacional, seu número de cadeiras caiu de 88 a 70 e em nível estadual de 149 para 108. Nas eleições para governadores, ele tinha apenas um sucesso, ganhando Minas Gerais pela primeira vez dos tucanos e, enquanto segurava Bahia, no Rio Grande do Sul, seu governador Tarso Genro foi forçado ao segundo turno. Em Brasília, o candidato do partido e atual governador ficou em terceiro lugar e no Rio de Janeiro o candidato ficou em quarto, com apenas 10% dos votos válidos .
Por outro lado, o PSDB fez bem não só no sentido de maiores percentuais do que o previsto, mas também em novamente ganhar no primeiro turno com 57% no estado economicamente mais importante, São Paulo. No entanto, o partido aumentou pouco o seu número total de votos, foi a perda maciça de apoio do PT, que resultou numa vitória relativa, tanto nacional como em SP[1].
Luciana Genro, do PSOL, ficou distante no quarto lugar na eleição presidencial, com 1,6%. No entanto, isso representa o dobro do resultado anterior e um ganho de cerca de 800.000 votos. O PSTU, ao qual demos apoio crítico, atraiu 90 mil votos, como teve na eleição anterior. Mesmo assim, dado um aumento de 3 milhões em apoio a Marina e de outros 4 milhões mais para abstenção, branco ou nulo, é claro que nenhum partido de esquerda foi capaz de se beneficiar qualitativamente do movimento de protesto do ano passado.
O segundo turno: Voto nulo
Como marxistas percebemos que as eleições são apenas uma arena da luta de classes, e não a mais importante. O resultado é fortemente influenciado e determinado pelo apoio dos maiores capitalistas e seus meios de comunicação. O primeiro turno é um exemplo disso, pois o resultado é diretamente proporcional às “doações de campanha” recebidas pelos candidatos. É importante que o PSOL foi capaz de aumentar o seu voto para 800 mil; se isso pode ser sustentado e ampliado ao longo dos próximos quatro anos será decidido nas ruas, nas fábricas e universidades, em manifestações, protestos e greves.
No segundo turno, a esquerda está dividida entre votar em Dilma e voto nulo. Nós chamamos por voto nulo; embora o PT seja um partido operário burguês - isto é, operário em grande parte de suas origens e sua base, mas burguês em suas políticas reais - e seria baseado em princípios chamar voto crítico para ele, não podemos recomendar isso nesta eleição.
Dilma é candidata de uma aliança eleitoral com uma gama de partidos burgueses, incluindo, o mais importante, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro, o PMDB. Desde o fim da ditadura militar, este tornou-se o principal partido da burguesia brasileira e um voto para Dilma Rousseff também seria um voto para Michel Temer, o líder do PMDB e candidato a vice-presidente.
Nesta situação, o apoio eleitoral crítico seria o mesmo que pedir um voto para um partido burguês; sem princípios e inaceitável. Rejeitamos o argumento do "mal menor", que alguns da esquerda usam para justificar tal voto. Os resultados do primeiro turno já mostraram como o PT perdeu apoio na classe trabalhadora, especialmente em sua antiga fortaleza de São Paulo. Pela primeira vez em muito tempo, o PT perdeu muitos votos nas cidades operárias do estado, incluindo o ABC, onde foi fundado.
Sem dúvida, muitos trabalhadores vão votar em Dilma Rousseff, a fim de evitar uma vitória de Aécio Neves. Embora compreensível, isso não é uma saída para a classe trabalhadora. Particularmente, no próximo período, no qual podemos esperar um agravamento das dificuldades econômicas do Brasil, um eventual novo período de governo do PT irá forçá-lo a lançar maiores ataques contra as suas próprias bases.
Por isso, tanto para os apoiadores restantes de Dilma e aqueles que tenham apoiado outros partidos de esquerda ou se abstiveram por completo, argumentamos que, independentemente de quem vença a corrida presidencial, o capital brasileiro prepara uma ofensiva contra todos nós, portanto, vamos nos organizar para lutar!