O POVO ESTÁ NAS RUAS!

20/07/2013 17:39

Matéria publicada em 20/07/2013 17:18

 

As grandes mobilizações populares de junho, que se desenvolveram por todo o país, nos obrigam a dedicar um tempo para uma reflexão sobre as mesmas e suas conseqüências.

O ponto de partida para essas mobilizações populares está na luta contra o aumento das passagens. Uma luta que já existe no país há quase uma década e na qual foi constituído o Movimento Passe Livre (MPL). Em São Paulo, com o reajuste da tarifa, o MPL convocou uma manifestação pela redução da tarifa. Muitos jovens atenderam de imediato a convocação, realizando uma grande manifestação, que contou com cerca de 15 mil manifestantes. A reação da Administração Haddad (PT) foi imediata: ordenou a repressão policial ao movimento para impedir que o mesmo parasse a Av. Paulista. A mídia também tratou de desqualificar o movimento, afirmando que eram baderneiros e vândalos. Tal postura da Administração e da mídia foi imediatamente contestada pela população de São Paulo que atendeu a nova convocação do MPL. Desta vez a concentração foi maior ainda, aumentando para 100 mil o número de manifestantes. Além disso, a revolta contagiou os jovens de todo o país que saíram as ruas para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público. A partir desse momento o movimento ganha outras proporções e outras reivindicações. Vários cartazes são levados pelos manifestantes exigindo Saúde, Educação, Transporte Público, Contra a realização da Copa no Brasil, Contra a corrupção e muitas outras que foram surgindo a cada manifestação.

A Administração Haddad (PT), juntamente com o governo Alckmin (PSDB), estavam intransigentes e chegaram a afirmar que o reajuste dado as tarifas do transporte público já era o mínimo possível, contando inclusive com as desonerações concedidas pelo governo Dilma as empresas do ramo. A mídia, ao ver a reação da maioria da população, apoiando os movimentos em todo o país, tratou de mudar sua posição radicalmente. Passou a tratar os movimentos como democráticos e justos, apoiando as mobilizações e diferenciando a maioria dos manifestantes das ações isoladas de “vândalos” que se aproveitavam do movimento para proporcionarem badernas e furtos.

Vimos esses movimentos crescerem a um patamar poucas vezes visto no país. Mas não podemos deixar expresso que as depredações eram apenas atitudes de vândalos inconseqüentes ou bandidos. Muitos ataques foram justamente contra as instituições burguesas. Foram ataques contra prédios públicos, principalmente dos poderes Legislativo e Executivo, além dos ataques aos bancos, em que não levaram nada, apenas destruíram os equipamentos. Com isso eles expressavam que não estavam realizando assaltos, mas que não acreditavam e nem respeitavam aquelas instituições burguesas. Porém, vimos também inseridos nesses movimentos, setores anarquistas e fascistas. Esses setores, em determinados momentos chegaram a fazer coro contra a presença de bandeiras de partidos de esquerda e de centrais sindicais, agredindo e queimando as bandeiras daqueles militantes presentes no movimento. Diziam que “o Brasil acordou e que não precisavam de partidos”. Esqueceram, ou não sabem, que enquanto eles dormiam, os militantes da esquerda e seus partidos incrustavam na história do país a luta da classe trabalhadora.

Mas, temos a certeza que esses movimentos mudaram completamente a conjuntura política do país. Os setores fascistas não conseguiram crescer e dar direção aos mesmos. Os prefeitos e governos foram obrigados a recuarem e negociarem a redução das tarifas do transporte público. A presidenta Dilma, que teve uma queda vertiginosa no índice de popularidade, foi obrigada a se pronunciar em cadeia de rádio e televisão por mais de uma vez, reconhecendo a precariedade dos serviços públicos e apresentando possíveis soluções para as reivindicações, como por exemplo, a contratação de médicos estrangeiros para atuarem pelo SUS, a reforma política, dentre outras, que foram muito polêmicas e não deixam de ser contestadas a todo instante.

Quando o governo Dilma apresentou a proposta de uma Assembleia Constituinte, a burguesia reagiu imediatamente. O medo de uma Constituinte diante de tal mobilização da população poderia representar a perda de todos os anéis e colares da burguesia para conservarem os dedos e até mesmo o pescoço. Como já era de se esperar, Dilma não resistiu a pressão e voltou atrás, propondo um “plebiscito” para a Reforma Política, que também está sendo questionado e contraposto a idéia de um “referendum”. A partir de então, a proposta de Reforma Política nada mais é do que uma tática de “distensionamento”, procurando mudar o foco do debate e das reivindicações. Ou seja, independentemente da decisão a ser tomada, se “plebiscito” ou “referendum”, nada muda de fato para atender as reivindicações da classe trabalhadora.

Quando a CUT orientou suas bases a participarem dos movimentos, de forma organizada, como classe trabalhadora, já estava no final. É como aquele jogador que só entra em campo aos 40 minutos do segundo tempo. Mas, temos outro ponto muito positivo desses movimentos de junho: as centrais sindicais foram obrigadas a se posicionarem. A CUT e as demais centrais, utilizando a tática de frente única, adotaram 10 pontos da pauta da classe trabalhadora para se unificarem e convocarem para o dia 11 de julho, o dia nacional de mobilização da classe trabalhadora. Esses pontos que definiram a unidade operária são os seguintes:

1-Redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução dos salários.

2-Fim do Fator Previdenciário, que torna a aposentadoria algo quase que impossível.

3-Contra o Projeto de Lei 4330, que regulamenta a terceirização de uma maneira ainda mais cruel que a atual.

4-Fim dos leilões dos poços de petróleo.

5-Fim do Superávit Primário, que produz uma verba de reserva, para atender ao pagamento da dívida pública.

6-10% do orçamento da União para a Saúde Pública.

7-10% do PIB para a Educação Pública.

8-Melhoria do Transporte Público. 

9- Reforma Agrária, Tributária e Urbana.

10-Valorização das aposentadorias.

A mobilização da classe trabalhadora, em número, foi muito inferior a mobilização que vimos em junho. Porém, se observarmos que a última greve geral realizada pela CUT foi há 20 anos e que durante a última década a Central tem agido de forma a blindar o governo do PT, a participação da classe trabalhadora foi excelente. Excelente também foi a qualidade das manifestações, totalmente democráticas, com a presença das centrais sindicais com direito a fala e bandeiras. Com todas essas manifestações, até Lula se pronunciou, afirmando que “Dilma precisa retomar o diálogo com os movimentos sociais”. Também nos chama a atenção a crítica da grande mídia burguesa ao movimento sindical, procurando desqualificá-lo, afirmando que é “velho” e antidemocrático porque a pauta de reivindicações vem de cima pra baixo, ao contrário do movimento de junho em que todos os participantes podiam levar sua própria reivindicação. Mas ao contrário do que afirma a mídia burguesa, o movimento sindical é organizado e possui uma tradição secular de luta. Além disso, a pauta de luta da classe trabalhadora é definida nos congressos de suas centrais, com a presença de delegados representantes de todas as categorias do país, eleitos em assembléias de base. Portanto, a pauta da classe trabalhadora não vem de cima pra baixo, mas de baixo pra cima, cumprindo as formas e exigências da democracia operária.

O governo Dilma (PT) encontra-se em um “divisor de águas”, ou ela atende as reivindicações da classe trabalhadora e traz seu governo para a esquerda, ou ela rompe definitivamente com a classe trabalhadora e continua levando seu governo cada vez mais para a direita. O que podemos dizer é que com a queda do índice de popularidade e da taxa de crescimento do país, o governo Dilma encontra-se em uma posição nada confortável e deve saber que a burguesia que hoje lhe apóia não exitará em lhe “cortar o pescoço”, se necessário for, para se manter no poder. Além do mais, estando praticamente há um ano das eleições presidenciais, dificilmente Dilma e o PT conseguirão reverter esse quadro sem intensa participação da classe trabalhadora nessas eleições. Portanto, concluímos que a única saída para o governo Dilma (PT) é atender as reivindicações da classe trabalhadora, trazendo seu governo para a esquerda, criando assim um forte elo entre o governo e a classe trabalhadora.

Concluindo, as centrais devem jogar peso na mobilização da classe trabalhadora, preparando uma greve geral para o dia 30 de agosto com base nas reivindicações que unem todas as centrais sindicais e procurando também um elo com os movimentos sociais e as manifestações de junho.

 

PREPARAR A GREVE GERAL NA BASE!

 

Escrito por Eloy Nogueira