O que a campanha da Natura nos ensina sobre a perversidade dos interesses capitalistas.

03/08/2020 13:38

Raquel Oliveira

 

Temos acompanhando a repercussão da campanha de Dia dos Pais da Natura que traz como protagonista o ator transexual Thammy Miranda. Os conservadores, liderados pelo clã Bolsonaro e lideranças religiosas pentecostais como Silas Malafaia destilam ódio absoluto à campanha e até convocam boicote aos produtos da empresa.  É uma empresa que gera empregos para muitas famílias, principalmente mulheres, que no Brasil somam mais de 11 milhões de mulheres (dados de 2015) que criam os filhos sozinhas.  Vivemos assim, um paradoxo imposto pelo capitalismo, de um lado uma empresa que explora a mão de obra e as vendas de seus caros produtos, e de outro, trabalhadores e trabalhadoras que dependem desse trabalho para se manterem e sustentarem seus filhos, sozinhas ou não. Como tantas outras empresas, a Natura foi apoiadora do golpe contra Dilma Rousself que nos trouxe a essa situação caótica, inclusive na questão das minorias sociais: mulheres, indígenas, negros, LGBTQ+.

 A anticampanha que os conservadores estão fazendo traz à luz do debate a hipocrisia dessa sociedade conservadora e podre. Nos permite dialogar sobre as liberdades, as conquistas dos últimos 30 anos e as perdas consequentes do golpe que sofremos, apoiado pelo ódio às minorias e pelo ódio às conquistas sociais. Nesse momento, a "paternidade" do Thammy permite aprofundar discussão sobre as mazelas sociais, o patriarcado/machismo que permite ao macho com pênis reproduzir, mas não assumir os filhos, mas ao gênero masculino sem pênis a impossibilidade de exercer o verdadeiro papel de pai. Papel esse que é assumido em grande número por mulheres, que sem a presença do macho/pênis, criam sozinhas o filho gerado nos moldes "bíblicos" e da “família tradicional”. Os filhos gerados ou adotados pelo amor e real desejo do casal homoafetivo torna-se agressão para a sociedade hipócrita que aceita naturalmente o abandono, a violência contra mulheres/mães e filhos. Esses lamentáveis e violentos acontecimentos nos permitem fazer a discussão e tocar nas feridas que a sociedade insiste em esconder embaixo tapete da moralidade: o machismo não permite que mulheres -hétero ou homossexuais- decidam sobre seus corpos, suas vontades, suas decisões e sua natureza. Nesse contexto, o debate do feminismo classista (sim, somos trabalhadoras e trabalhadores, não há igualdade na luta de classes) é mais do que necessário. O capitalismo sempre vai gerar lucro para a classe dominante, seja explorando a força de trabalho, seja retirando e atacando direitos de trabalhadores, seja usando as nossas pautas de luta e conquistas. A propaganda da Natura mostra claramente a jogada de Marketing que utiliza a pauta LGBT+. Atinge em parte um público que consome e se sente “representado” nesse momento romantizado da paternidade, seja heterossexuais ou LGBT+.   

Portanto, numa data unicamente capitalista, numa cartada de marketing da Natura, trouxe a nós, a possibilidade de continuar e aprofundar o debate e expor todo o ranço hipócrita da extrema direita que assanha nesse momento de crise mundial a lógica perversa do capitalismo: não estão minimante preocupados com os “pais”, ou “mães”. Querem apenas, manter seus lucros, aumentarem suas vendas, explorando trabalho e sentimentos, mesmo que correndo risco e atiçar a “fúria” conservadora da sociedade. A Natura, registrou no dia seguinte à reação conservadora, um crescimento de 6,37% na Bolsa de Valores.

É, portanto, nosso papel combater o capitalismo e toda sua estrutura ideológica: o fascismo, o preconceito, o conservadorismo. Estrutura sustentada pela mídia, religiões e governos, sobretudo os neofascistas, que nesse momento de crise mundial, ganham força em vários países.

Nossa luta é contra o Capital e toda sua estrutura cruel e hipócrita.

A revolução socialista não encerrará por si só o preconceito em todas as suas vertentes e a violência contra as chamadas minorias sociais. A nossa luta em destruir essa lógica perversa de preconceito se arrastará pós revolução. No entanto, não é possível pensar no fim dessa lógica sem uma revolução socialista.