Quem é Geraldo Alckmin?

16/02/2022 17:37

Carlos Uchoa Magrini

A grande questão do momento, com certeza, é o vice de Lula na chapa para presidência da República. Enquanto Lula e a maioria da direção nacional do PT costuram com a direita golpista o nome de Alckmin para vice, os militantes mais à esquerda do partido e de outros setores da esquerda pedem uma aliança à esquerda, com partidos de esquerda e movimentos sociais.

Parece que Lula ganhará mais essa. Mas, antes que esteja definido, vamos falar sobre aquele que Lula defende para ser seu vice, Geraldo Alckmin.

Durante o último governo de Alckmin no estado de São Paulo, a bancada petista na Assembleia Legislativa apresentou 23 pedidos de criação de CPI. Apenas duas foram criadas, a da Merenda e das OSS. Com a grande maioria dos parlamentares na Assembleia Legislativa os tucanos não tiveram dificuldades para barrar as investigações. Além disso, era notável um pacto com a mídia burguesa que fazia a blindagem de Geraldo Alckmin que estava em seu quarto mandato, 2015/2018. Esse tipo de blindagem midiática não é novidade nos governos tucanos. Em Minas Gerais, vimos isso acontecer durante os governos Aécio Neves e Anastasia.

Furnas

Vamos lembrar incialmente do escândalo de uma campanha, com caixa dois, envolvendo Furnas Centrais Elétricas, uma empresa subsidiária da Eletrobras. Cerca de 150 políticos teriam recebido R$ 40 milhões na disputa eleitoral de 2002.

Alckmin, José Serra e Aécio Neves foram os principais beneficiários do esquema de corrupção milionário do PSDB. Pela “Lista de Furnas”, Alckmin foi quem mais recebeu recursos: R$ 9,3 milhões, sendo R$ 3,8 milhões distribuídos no primeiro turno e R$ 5,5 repassados no segundo. Serra foi beneficiado com R$ 7 milhões e Aécio aparece como beneficiário de R$ 5,5 milhões.

Trensalão

Outro escândalo é o famoso trensalão, assim batizado pelos petistas. Um esquema de formação de cartel e corrupção nas compras de trens e obras de metrô no Estado de São Paulo. Os primeiros indícios de corrupção do caso surgiram em 1997, durante o Governo do tucano Mário Covas. À época a Polícia Federal indiciou 10 pessoas ligadas à gestão do governador. Em 2008 um funcionário da Siemens detalha o esquema de propinas em projetos do Metrô e da CPTM de São Paulo e do Metrô do Distrito Federal. Mais tarde, a Siemens delatou a existência do cartel. O período no qual o cartel agia abrange os Governos dos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra. Nas estimativas do Ministério Público, o esquema pode ter dado prejuízos de mais de 800 milhões de reais aos cofres públicos. Esse esquema foi abafado pelo “rolo compressor de Alckmin” na Assembleia Legislativa, impedindo a abertura de uma CPI.

Máfia da Merenda

Trata-se de um esquema de superfaturamento no fornecimento de alimentos para a merenda escolar da rede pública. A investigação promovida pela CPI da Merenda identificou desvios nos contratos com o governo de Alckmin.

“A Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo investigam um esquema de corrupção e superfaturamento no fornecimento de alimentos para merenda escolar, envolvendo o governo de São Paulo e pelo menos 22 prefeituras do interior paulista. Segundo funcionário da Coaf que denunciou a fraude, a cooperativa contratava “lobistas” que atuavam junto aos governos e prefeituras, pagando propina a agentes públicos em troca de favorecimento em contratos.  O maior deles é com a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. De acordo com o Ministério Público, o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) pagou R$ 7,7 milhões à cooperativa no último ano.”  (Site PT)

CPI das OSS

A origem desse escândalo está na investigação dos contratos entre os estado e prefeitura de São Paulo com Organizações Sociais de Saúde (OSS).

Alckmin mostrando sua preocupação em relação ao resultado da CPI disse à deputada Sahão: "Acho que o resultado dessa CPI vai ser extremamente comprometedor para o governo".

De acordo relatório apresentado pelo Conselho Estadual de Saúde, cinco Organizações Sociais detêm 75% dos contratos com a Secretaria estadual de Saúde. Duas delas, a SPDM e a SECONCI, concentram, cada uma, mais de 20% dos contratos. 

O Relatório do Tribunal de Contas do Estado apresentado na CPI no início de maio, destaca 23 irregularidades encontradas nos contratos, dentre elas, a quarteirização de empresas.

Rodoanel

Em junho de 2018, a Polícia Federal (PF) deflagrou uma operação para prender 15 pessoas suspeitas de desviar dinheiro das obras do trecho Norte do Rodoanel Mário Covas. Um dos presos é Laurence Casagrande Lourenço, nomeado por Alckmin, para comandar a estatal Dersa, principal alvo da operação. De acordo com investigações do Ministério Público Federal, houve um sobrepreço de R$ 600 milhões nos custos da obra conduzida pela OAS e Mendes Junior. Relatórios do Tribunal de Contas da União (TCU), da Controladoria Geral da União (CGU) e um laudo pericial da Polícia Federal apontam fraude, superfaturamento e sobrepreço nos contratos firmados entre a Dersa e as empreiteiras.

Aeroporto fantasma

Em 2005, o governo Alckmin investiu pesado em obras no aeroporto Antônio Nogueira Junior, em Itanhaém, com 85 mil habitantes à época. Batizado de “aeroporto fantasma", o movimento médio de passageiros naquele ano não ultrapassou 5 pessoas por dia. O total gasto pelo governador na obra chegou a R$5,5 milhões, com direito a uma pista capaz de receber até mesmo um Boeing 737, conforme denúncia da Folha de São Paulo. As tentativas de investigações foram abafadas pelos tucanos.

Mídia

Em agosto de 2013, Alckmin foi acusado de "ajudar" a Folha, o Estadão e a revista Veja. O GOVERNO Alckmin gastou mais de R$ 3,8 milhões na compra de 15.600 assinaturas da Folha, Estadão e Veja que receberam verbas do orçamento da Secretaria de Educação. As assinaturas foram destinadas às escolas da rede estadual de ensino em um projeto chamado “sala de leitura”, como mostra a reportagem publicada por Altamiro Borges do Centro de Mídia Barão de Itararé.

Pinheirinho

A desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, ficou conhecida em todo o país, principalmente devido à truculência da ação policial. Cerca de 6 mil pessoas que moravam no local, foram despejadas de suas casas pela ação da tropa de choque da polícia militar do então governador Geraldo Alckmin.

Na na madrugada do dia 22 de janeiro de 2012, 2mil soldados da PM auxiliados pela Guarda Civil Metropolitana de São José dos Campos, armados com revólveres, bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, fuzis municiados com balas de borracha, cassetetes e sprays de pimenta atacaram violentamente os habitantes do Pinheirinho. Contavam com o apoio de 220 viaturas, 40 cães, 100 cavalos, dois helicópteros Águia e carros blindados.

Os moradores, inclusive mulheres grávidas, crianças em pânico e velhos desesperados, foram agredidos por policiais mesmo sem demonstrar qualquer resistência. Uma verdadeira guerra contra os pobres. Moradores foram atingidos por tiros de arma de fogo e balas de borracha. Mais de 500 relataram abusos policiais. Uma família vizinha ao Pinheirinho denunciou ter sofrido abuso sexual e violência física por parte de policiais da Rota durante a desocupação.

Repressão contra os estudantes

Em 2015 o governador do estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, avança com a “Reforma do Ensino Médio” que indica o fechamento de mais de 120 escolas públicas. Segundo o jornal El País, chegou a cerca de 200 escolas ocupadas. Por meio de decreto emitido pelo governador Geraldo Alckimin, a Secretaria de Educação iniciou no dia 23/09 a reorganização de cinco mil escolas no estado. Sem qualquer consulta à população, o plano determinava que as escolas poderiam ter apenas um ciclo de ensino, ou seja, Fundamental I (1ª a 5ª série), Fundamental II (6º ao 9º ano) ou Médio. Essa mudança atingiria mais de 300 mil alunos.

Foi um momento difícil, marcado pelas ocupações de escolas pelos alunos, por muitas manifestações e por uma grande greve estudantil e de professores, do ensino médio e das universidades, que se estendeu até 2016, influenciando todo o país na luta contra a “Reforma do Ensino Médio”. A polícia agiu violentamente contra os estudantes, invadindo as escolas ocupadas, agredindo jovens e adolescentes com sprays pimenta e cassetetes.

Um vice neoliberal

No programa Roda Viva, em 2018, o tucano Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo e naquele momento pré-candidato do PSDB à presidência da República, com muita tranquilidade defendeu o Estado mínimo, afirmando que a “gastança” pública impede a fomentação da economia, geração de emprego e investimentos. Afirmou ainda que o Estado gasta muito com aposentadorias, número excessivo de funcionários e com empresas estatais. Defendeu a entrega do patrimônio público para capitalistas do setor privado.

Defendeu as “reformas” de Temer, como reforma trabalhista e tetos de gastos, afirmando que a reforma trabalhista foi importante na modernização de uma legislação oriunda dos anos 40. Além disso, deixou claro sua pretensão de extinguir o Ministério do Trabalho.

Como vimos, Alckmin defende a mesma política neoliberal de FHC, Temer e Bolsonaro.

Conclusão

Essa breve pesquisa deixa bem claro quem é Geraldo Alckmin. Alguns podem dizer que tudo isso aconteceu devido ao partido (PSDB) e que Alckmin saiu do partido. Porém, em momento algum, vimos Alckmin afirmar que não concorda mais com tudo o que fez, que era orientação do partido etc. Não! A saída de Alckmin do PSDB é apenas estratégica, pois ele continua um dos expoentes do neoliberalismo no país e procura o PSB como um partido de aluguel. É a forma que a direita golpista negocia com Lula e a maioria da direção do PT para retomar o controle total do estado, sem as “extraordinárias” polêmicas entre as instituições burguesas promovidas por Bolsonaro e seus discursos de preconceito e ódio.

Infelizmente, o programa de governo dessa possível chapa provavelmente não atenderá às reivindicações da classe trabalhadora, como por exemplo, Revogação da reforma trabalhista, da reforma da previdência, da Emenda Constitucional 95 (Teto de Gastos), reestatização de tudo o que foi privatizado, Petrobras 100% estatal e sob o controle dos trabalhadores, Reforma Agrária, programa emergencial de empregos etc.

Defendemos a candidatura de Lula para presidente, mas não concordamos com Alckmin, ou qualquer outro golpista ocupando o cargo de vice-presidente. Queremos um GOVERNO DOS TRABALHADORES!

  • LULA PRESIDENTE!
  • FORA BOLSONARO!
  • FORA ALCKMIN DA CHAPA DO PT!


Fonte:

  1. https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/justica-bloqueia-r-614-milhoes-de-empresas-do-trensalao-em-sao-paulo/
  2. https://www.cartacapital.com.br/politica/ex-diretor-do-metro-revela-trensalao-tucano-no-governo-de-sao-paulo/
  3. https://www.poder360.com.br/justica/lava-jato-denuncia-alckmin-por-corrupcao-passiva-e-lavagem-de-dinheiro/
  4. https://www.smetal.org.br/imprensa/pm-de-alckmin-reprime-estudantes-contrarios-a-fechamento-de-escolas/20151009-180307-f707
  5. https://www.sindmetalsjc.org.br/noticias/n/2539/estudantes-protestam-contra-ataques-de-alckmin-a-educacao
  6. https://brasil.elpais.com/brasil/2015/12/10/politica/1449777218_852412.html
  7. https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2015/12/repressao-a-alunos-e-professores-demissoes-e-privatizacao-de-escolas-em-sp-pr-e-go-marcam-2015-2651/
  8. https://www.brasildefato.com.br/2018/08/24/da-merenda-ao-metro-os-escandalos-de-alckmin-que-nunca-deram-em-nada
  9. https://jornalistaslivres.org/10-anos-do-massacre-do-pinheirinho-cometido-pela-pm-de-geraldo-alckmin/
  10. https://outraspalavras.net/outrasmidias/lista-de-furnas-o-caso-de-corrupcao-que-a-midia-mais-esconde/
  11. https://pt.org.br/entenda-o-caso-da-mafia-das-merendas-do-governo-alckmin/
  12. https://vermelho.org.br/2018/07/25/alckmin-o-neoliberal-entre-amigos-no-roda-viva/