São Paulo: Marcha reacionária
24 de Março 2014 - Rico Rodrigues
No dia 22 de Março, um grupo chamado de Organização de “Combate à Corrupção” (OCC Alerta Brasil) chamou para a “Marcha da Família com Deus” em várias cidades do Brasil. O ato chamou para a volta dos militares ao poder no Brasil e foi uma verdadeira provocação, já que em 1964 tal chamada Marcha preparou o caminho para o golpe militar.
Pois, os tempos são diferentes. Em 1964 a Marcha contou com um significado apoio das elites políticas e econômicas, incluindo a igreja católica, e participaram mais que 200.000 pessoas. Os números sobre a Marcha desse sábado em São Paulo variam entre 800 até 2000. Quando eu passei no começo do ato na Praça da República tinha no máximo 300 pessoas, e no final, na Praça da Sé tinha mais, talvez 1000, avaliando as fotos na internet. No Rio tinha, segundo os relatórios, algumas centenas de pessoas.
Os integrantes da Marcha, entretanto, não escondiam as posições mais reacionárias que eles defendem. Na faixa do carro do som foi escrito: FFAA já! A abreviação FFAA quer dizer “Forcas Armadas”, vários cartazes e também os gritos falaram francamente: “Queremos a volta dos militares ao poder!”.
A razão para isso seria que os valores morais da família estão se perdendo e o PT e a Dilma querem converter o país ao Comunismo e a uma “Colônia de Cuba”. Leva a um lado irônico já que depois de 12 anos no poder, o PT tem feito tanto para comprovar que eles não são comunistas, que o capitalismo vai prevalecer em pleno vigor sob seu comando e, que os grandes capitalistas seguem fazendo melhores negócios nas costas dos trabalhadores .Ainda assim, os reacionários saem às ruas para acusar Dilma de ser comunista.
Esse ato tinha um espírito bizarro, como se fosse uma caricatura. Um relatório na Carta Maior falou de um “carnaval fora de época” e afirmou que “aquilo tudo era engraçado demais pra ser levado a sério”. (1)
Ao mesmo tempo tinha um ato contra essa provocação da extrema direita na Praça da Sé, chamado pelo “Comitê Antifascista Anti-Golpista”. Esse ato reuniu setores da esquerda e contou com a presença de 1500 a 2000 manifestantes. O ato foi liderado pelo PCO.
A “Marcha pela Família” levou a algumas discussões entre a esquerda no Brasil sobre o perigo da direita e a necessidade de se organizar contra aquilo. De um lado se encontra o PCO, que puxou o ato antifascista no Sábado. Segundo a avaliação deles, já desenvolvida durante o movimento do ano passado, o Imperialismo internacional se colocou em modo de golpe e, portanto, haveria um perigo eminente de golpe da direita internacionalmente e, também no Brasil. No outro lado encontra-se o PSTU, avaliando que a extrema direita não representa perigo nenhum, que os capitalistas estão felizes no poder com o PT e, portanto, não haveria necessidade de formar alianças e realizar atividades antifascistas.
Parece que a última posição corresponde à avaliação apresentada na Carta Maior: tudo aquilo é uma piada e não pode ser levado em sério.
Embora seja verdade que a extrema direita no Brasil está fraca e longe de ser um perigo imediato para chegar ao poder, seria também errado avaliar que seja uma piada e que traz perigo algum. No último ano a direita mostrou sua face nas manifestações e foi capaz de influenciar e mudar a agenda do movimento com o cartão do nacionalismo numa maneira preocupante. O site de Facebook do OCC tem mais de 150.000 curtidas. Isso mostra pelo menos que as pautas dos reacionários estão sendo discutidas e ouvidas por uma parte da população maior que deveria ser.
Também é provável que tais ideias de extrema direita ainda contam com um certo apoio dentro do aparelho de repressão. O elogio e a defesa da Polícia Militar no ato de sábado foram presentes (até “Pela não desmilitarização da PM!”). Um integrante da própria PM discursou no carro de som com a provável presença de alguns militares. Quando o grito de “Vergonha, vergonha!” de uma jovem contrária ao ato levou a uma confusão e vários direitistas queriam bater nela, os integrantes da PM ficaram tranquilos ao lado e não fizeram o qualquer menção de se mover. Ao contrário a tropa de choque foi colocada com bastão e escudo ao lado da manifestação de esquerda.
Por outro lado, a avaliação do PCO sobre o perigo de golpe é exagerada e confusa. Quando é verdade que acaba de ter um golpe de direita na Ucrânia e que a direita na Venezuela está saindo às ruas com intenções parecidas, a situação tem que ser avaliada em cada país. Não é assim que o Imperialismo internacional decide que agora a os golpes estão na agenda toca a um país depois de outro. No Brasil, agora, a (extrema) direita ainda está fraca e a opção de golpe não está na pauta do dia.
Porém, não precisamos esperar o perigo da tomada do poder pelos fascistas pegar fogo para que tomemos iniciativas na rua e nos organizemos contra delas. É preocupante que tal manifestação possa sair às ruas, com uma pauta tão óbvia, e não é confrontada por mais pessoas. Na Europa não tem mais manifestação fascista sem a mobilização massiva da esquerda contra, bloqueando as ruas e organizando a juventude e a população. Assim deveria ser. Hoje as chamadas para os Militares ao poder parece bizarro, mas quando a situação econômica muda e a luta de classe aumenta, o cenário pode mudar rápido!
Por isso apoiamos o Comitê Antifascista de São Paulo e toda outra iniciativa nesse sentido!
Tolerância zero para os fascistas! Não passarão!