Solidariedade com Rojava e Kobani! Apoiar a resistência curda contra o ISIS!
Tobi Hansen, Gruppe Arbeitermacht, Berlim, 08 de outubro 2014
Nas duas últimas semanas, a cidade de Kobani na região Rojava da Síria, na fronteira com a Turquia, tem sido o centro da guerra civil síria. A cidade é ameaçada pelas forças do clerical fascista "Estado Islâmico no Iraque e na Síria" (ISIS), cujo objetivo é acabar com os territórios de autogoverno estabelecidos pelos curdos.
As Forças de Defesa Popular da YPG e os batalhões de mulheres da YPJ (as organizações curdas) lutaram heroica e abnegadamente para defenderem sua cidade. Apenas alguns milhares de combatentes retiraram com sucesso mais de 100 mil civis. Também foram eles que lutaram para criar um corredor de fuga para os yazidis no norte do Iraque, a fim de protegê-los contra os massacres do ISIS.
Desde 7 de outubro, o combate tem sido intensificado nas ruas de Kobani e combatentes curdos, juntos com batalhões da FSA (Exército Livre da Síria), prometeram tornar a cidade uma "vala comum para o IS". Relatos de esquadrões suicidas opondo-se contra tanques e artilharia mostram o quadro da situação militar.
Mostrar solidariedade! Sem confiança nos EUA e na Turquia!
Em muitas cidades da Europa, dezenas de milhares de curdos tomaram as ruas nos últimos dias, não só para demonstrar a sua solidariedade, mas também para mostrar ao mundo que todas as promessas dos Estados imperialistas e da Turquia na luta contra o ISIS são pouco mais do que fumaça e espelhos, que de nada servem. O avanço sobre Kobani foi aceito e tolerado pelo Ocidente. O Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, chegou a admitir publicamente que "defesa da Kobani não é uma prioridade estratégica" para os EUA.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon apelou à comunidade internacional para ajudar os combatentes e civis em Kobani, ele esperava que, "Todos aqueles que têm os meios para fazê-lo" agiriam, mas suas palavras foram efetivamente ignoradas.
Quando os Estados Unidos entraram em guerra com a sua "coalizão dos dispostos", muitos esperavam que iria trazer um rápido fim para o ISIS, mas agora eles estão amargamente desapontados. Ataques aéreos esporádicos a refinarias de petróleo estão muito longe da "guerra cirúrgica", que foi ameaçada. Só agora, com o ISIS efetivamente entrando na cidade de Kobani, a Força Aérea dos EUA tomou conhecimento e bombardeou a parte oriental da cidade. Destruindo áreas residenciais e sua infra-estrutura é aparentemente mais fácil do que tanques e canhões.
A política dos Estados Unidos e seus aliados não é aleatória e nem inesperada. Os imperialistas não foram para guerra contra o ISIS no interesse da humanidade ou de autodeterminação ou razões similares. Pelo contrário, a barbárie dos jihadistas é sim um pretexto para legitimar uma intervenção para estabelecer uma "estável" ordem liderada pelos Estados Unidos. Os ataques aéreos servem exatamente a esses objetivos reacionários, que também se expressa no fato de que, por um longo tempo, eles tinham um caráter em grande parte cosmético.
Os curdos de Kobani, o YPG e o PKK são em última análise obstáculos para os imperialistas e seus aliados locais (sobretudo a Turquia), porque eles são baseados em apoio real de massa. Isso mostra o quão ingênuo e irreal é esperar o apoio aéreo eficaz dos poderes imperialistas, que têm impedido o armamento das forças progressistas no Oriente Médio, como o YPG e a FSA, por anos.
Perto da fronteira, o próximo poder fortemente armado da OTAN, incapaz de combater o ISIS, a Turquia, já está esperando. As Forças Armadas turcas subiram tanques e artilharia, porque eles sabem que o ISIS deve ser derrotado no chão. Durante anos, a Turquia tem permitido o ISIS e as outras facções islâmicas, como a Frente de Al-Nusra, a operar a partir de seu território, incluindo a permissão para passagem de apoio financeiro e militar da Arábia Saudita e Qatar. Mas a Turquia não vai ajudar os curdos, como a experiência dos muitos refugiados atualmente na região fronteiriça mostra. Ali eles estão sendo atacados com gás lacrimogêneo e munição afinada (tipo armas de verdade para matar). A polícia turca vem atacando manifestações em solidariedade com os curdos em todo e país, e os números oficiais já falam de pelo menos 31 mortos.
A solução proposta pela Turquia é a criação de uma "zona tampão" ao longo do lado sírio da fronteira, a ser aplicada por suas tropas. Esse seria exatamente o território da região de auto-governança curda de Rojava. Tal invasão turca seria o último prego no caixão da resistência curda.
É bem possível que as tropas turcas serão travadas até Kobani cair. Em seguida, o IS terá tempo suficiente para se retirar, deixando a Turquia como uma potência ocupante no leste do Curdistão. Isso iria cumprir a ambição de Erdogan para continuar a influenciar a guerra civil síria.
O que a esquerda pode fazer
Há uma alternativa à intervenção imperialista: Temos de mostrar solidariedade com a resistência curda. A luta por Kobani e Rojava não é apenas para os curdos, sua luta é importante para todas as forças de esquerda e internacionalistas. Nessa situação, idéias pacifistas no sentido de que "já existem armas suficientes na região" não servem para nada. As armas têm de estar nas mãos certas. Temos de defender o direito de autodefesa dos curdos – e para isso necessitam de armas, da solidariedade e apoio internacional.
Nossa solidariedade também vai para o movimento de resistência curda na Turquia e da esquerda turca, que já tentou várias vezes a furar o bloqueio de Kobani efetuado pela polícia turca e forças especiais, para apoiar os combatentes curdos. Politicamente, é necessário quebrar o bloqueio de Kobani e de outras áreas curdas na Síria e na Turquia, para abrir o caminho para suprimentos e armas pesadas, para que possam enfrentar os tanques e a artilharia do ISIS, com algo mais que metralhadoras.
O movimento operário na Europa deve apoiar com ajuda material e militar, sem quaisquer pré-condições políticas. Isso inclui a abolição da proibição do PKK (partido curdo na Turquia), assim como muitas outras organizações curdas. O PKK parou o "processo de paz" na Turquia e em muitas cidades tem confrontação com a polícia turca. O PKK também organizou unidades voluntárias, que conseguiram romper a fronteira e agora estão lutando com os companheiros de Kobani contra os fascistas do ISIS. Para todas as críticas que temos da teoria e da prática do PKK, agora precisamos mostrar solidariedade na luta pelos direitos dos curdos e dos direitos do PKK.
Não há muito tempo, Kobani, o maior distrito curdo na Síria, está prestes a cair. A cidade pode cair pouco depois de ter publicado estas linhas.
Uma vitória do ISIS seria um desastre não só para os milhares de moradores remanescentes e combatentes, que enfrentam um massacre, mas para todo o povo curdo. Centenas de milhares já foram feitos refugiados. As estruturas de autogoverno na Kobani seriam destruídas.
O cúmulo do cinismo das potências da OTAN seria alcançado se, após a queda do Kobani e, possivelmente, com a conivência do regime de Assad, a Turquia fosse “liberar” a cidade do ISIS e assim estabelecer a sua própria posição na reorganização do Oriente Médio.
Em qualquer caso, uma derrota dos curdos seria um golpe brutal para as restantes forças progressistas e democráticas da revolução síria e da Primavera Árabe.
A heróica resistência em Kobani e Rojava, portanto, precisa do nosso apoio agora. Mas o heroísmo dos mártires, unidades de defesa do povo, YPG e YPJ, também prova uma coisa: a luta de libertação dos povos oprimidos, dos operários e camponeses está viva. Mesmo se eles sucumbirem ao maior poder de fogo de seus inimigos, os islamo-fascistas do ISIS, e à política cínica das potências regionais, especialmente da Turquia, e das potências imperialistas, especialmente os Estados Unidos. Sua luta é advertência e um exemplo de determinação a ser seguida por nós!
- Permanecei firmes, Kobani livre!
- Fim do bloqueio! Ajuda material e armas para a resistência curda!
- Fim da proibição do PKK!
- Fronteiras abertas para os refugiados!
- Não à qualquer intervenção imperialista!